São Paulo, sábado, 1 de julho de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Darcy Ribeiro lança livro com molecagens

Antropólogo autografou ontem seu `Noções de Coisas'

DA REPORTAGEM LOCAL

O lançamento do livro ``Noções de Coisas" (ed. FTD), do antropólogo e senador Darcy Ribeiro (PDT-RJ), foi uma celebração da molecagem. Com Ziraldo Alves Pinto, que ilustrou o livro, Darcy contou histórias, falou bobagens e deu conselhos-provocações:
``Não fiquem lendo muito. Vivam, namorem. A natureza nos deu órgãos maravilhosos para comer, cheirar, amar. É gostoso", disse Darcy para a platéia, formada por cerca de 1.500 estudantes de primeiro grau.
O lançamento foi no Memorial da América Latina, em promoção da Folha, na manhã de ontem. Além de ouvir Darcy e Ziraldo, os estudantes assistiram a apresentações do grupo circense Acrobáticos Fratelli, com malabarismos, esquetes e engolidores de fogo.
``Noções de Coisas", dedicado ao público infanto-juvenil, levanta dúvidas sobre as coisas aparentemente mais banais. Um exercício de desconfiança também contra a autoridade de quem pretende ensinar alguma coisa.
``Há muita gente especializada que, sem ser sábio, sabe alguma coisinha. O diabo é que, quanto mais aprofundam no saber do que sabem, mais ignorantes ficam do resto. E o resto é o mundo todo", afirma Darcy no livro.
É nesse ``resto" que Darcy exercita seu livro. Fala, por exemplo, das pulgas, ``a carapaça, a cabecinha, os olhos, o sugador de sangue, tudo perfeito, admirável, maravilhoso", que deve ter consumido muito tempo da natureza para chegar ao que é. E conclui: ``Por quê? Pra quê?"
Por quês e pra quês circulam pelo livro todo. É um espanto de criança, esse que o antropólogo tenta resgatar no texto, enquanto vai dando informações sobre ecologia, índios, matemática, astronomia, cultura.
É antológico o capítulo sobre a invenção do número zero, obra do ``sábio mais sábio do mundo", que descobriu que, onde não há nada, algo existe: o nada, o zero, sem o qual a matemática seria quase impossível.
O lançamento do livro ficou no mesmo clima do texto, provocando garagalhadas e palmas a cada vez que Darcy dizia, por exemplo, ``bosta". Na definição de Ziraldo, Darcy se comporta como um ``tio maluco", que diz bobagens e ``xinga nosso pai na nossa frente".

Texto Anterior: Abuso de poder mata a sabedoria
Próximo Texto: Ai! Acordei desindexado e menstruado!
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.