São Paulo, domingo, 2 de julho de 1995
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'Administradores' conduzem desindexação

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Uma equipe restrita denominada de time dos ``administradores" do Real foi a responsável pelo ajuste produzido no plano de estabilização sexta-feira, quando foi apresentado o pacote com as bases para a desindexação da economia.
Os ``administradores" acabaram vencendo uma corrente do governo, liderada por Pérsio Arida, ex-presidente do BC, que pretendia a desindexação total já. Apesar disso, Arida se mantém como consultor informal do presidente Fernando Henrique Cardoso.
As metas da nova fase do plano são moderadas e refletem a opção de FHC pela desindexação gradual. O presidente concordou com a corrente de economistas que prefere jogar para um pouco mais adiante o objetivo final do Plano Real -o chamado ``nominalismo", que consiste em preservar o valor da moeda a salvo de permanentes reajustes.
Por isso, a correção monetária ganhou uma sobrevida. ``Ainda não está na hora do nominalismo absoluto, mas caminhamos para ele quando desestimulamos qualquer mecanismo de indexação", explicou o secretário-geral da Presidência, Eduardo Jorge.
A opção definida por FHC após uma maratona de encontros da equipe econômica levou em conta a avaliação de que a sociedade não está preparada para o fim da reposição automática da inflação.
O governo temia que a indexação persistisse, informalmente, abalando a estrutura do plano.
Prevaleceu a preocupação com o impacto político das medidas. ``Isso passa no Congresso?", era a pergunta que os técnicos faziam durante as reuniões, contou o chefe da Casa Civil, Clóvis Carvalho.
Esse foi, por exemplo, o motivo que levou o governo a garantir, desde já, o repasse aos salários da inflação medida pelo IPC-r (Índice de Preços ao Consumidor em real) desde a última data-base dos trabalhadores até o mês de junho, quando o índice será extinto.
O governo recorreu até ao filósofo grego Aristóteles para explicar o ritmo da desindexação. ``A natureza não dá saltos", teorizou Carvalho.
No universo da equipe econômica, o espírito de Aristóteles foi incorporado pelo diretor de Assuntos Internacionais do BC, Gustavo Franco, o principal defensor do gradualismo. Franco influenciou o ministro Pedro Malan (Fazenda) e acabou convencendo também Clóvis Carvalho e o próprio FHC.
``Não estamos mais inventando a roda. O desafio agora é administrar a estabilidade econômica", explicou Carvalho, um dos integrantes do time de ``administradores" do plano, ao lado do diretor do BC, Francisco Lopes, dos ministros Malan e José Serra (Planejamento), e do secretário de Política Econômica da Fazenda, José Roberto Mendonça de Barros.

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