São Paulo, domingo, 2 de julho de 1995
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TR ultrapassa a inflação em 3% desde julho de 94

GABRIEL J. DE CARVALHO
DA REDAÇÃO

A discussão sobre os juros exorbitantes do Plano Real costuma ter como alvo a TR (Taxa Referencial), que remunera a poupança e corrige dívidas de muita gente. Nos últimos 12 meses, entretanto, a diferença dessa taxa sobre a inflação medida pelo indexador dos salários, o IPC-r, ficou em 3,11%.
A TR teve comportamento muito próximo dos índices de inflação desde sua origem, em fevereiro de 91, no Plano Collor 2, embora tenha sido condenada como parâmetro de correção monetária pelo Supremo Tribunal Federal.
A diferença sobre a inflação se acentuou desde março passado, quando o Banco Central puxou as taxas de juros -base de cálculo da TR- na tentativa de reverter a rápida perda de reservas em moeda forte e esfriar o consumo.

Crédito mais caro
Mesmo com essa elevação da taxa, também resultado da queda do redutor de 1,2% para 1% em março, o tamanho da TR não explica a recente onda de calotes.
É que, na ponta do crédito, ao juro pago ao investidor se acrescentam impostos e os efeitos dos compulsórios que o governo aplicou sobre os recursos depositados à vista ou a prazo nos bancos.
Além disso, entre o juro pago num lado e cobrado no outro há custos administrativos, o lucro da instituição financeira e a taxa de risco com a qual o sistema se previne contra os calotes. Como a inadimplência (não-pagamento) cresceu, a taxa de risco foi junto.
Ainda estão em andamento contratos de financiamento antigos, de longo prazo, anteriores ao Real. No caso de pessoas físicas, em geral referem-se à compra de carros.
Esses empréstimos, que são pós-fixados, ou seja, a prestação sobe mês a mês, estão sofrendo o impacto da alta dos juros.
Financiamentos mais recentes, entretanto, foram prefixados. O consumidor sabia exatamente quanto ia pagar nos meses seguintes. O juro nesse tipo de crédito também é altíssimo, mas já vem embutido nas prestações.

Outros fatores
O desequilíbrio dos orçamentos domésticos teve origem também na soma de outros fatores, não necessariamente ligados aos juros.
Um deles foi o aluguel residencial. O IPC da Fipe, que mede o custo de vida para paulistanos com renda até 20 mínimos, acusa alta de 209,68% desde o Real, período em que o índice geral ficou em 31,78% (até a terceira quadrissemana de junho).
Outra fonte de pressão foram os serviços pessoais, como cabeleireiros e manicures (alta de 113,10%), serviços médicos (61,51%), matrícula e mensalidades escolares (54,84%), empregadas domésticas, faxineiras etc.
Em setores de produção, como o rural, a revolta contra a TR vem do fato de muitos preços estarem hoje nos mesmos patamares de um ano atrás. No IPC da Fipe, alimentos semi-elaborados aparecem com 9,80% e os industrializados, com 7,25% em 12 meses. Produtor de arroz recebe hoje, por saca, menos que há um ano.

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