São Paulo, terça-feira, 4 de julho de 1995
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Casarões são ameaça em São Luís

CRIS GUTKOSKI
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SÃO LUÍS

Casarões coloniais dos séculos 18 e 19 estão prestes a virar ruínas no centro histórico de São Luís (MA), segundo o Crea (Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura).
Levantamento da entidade concluiu que 77 sobrados podem desabar devido à má conservação. Em nove, o risco de queda é considerado iminente.
Exemplares da arquitetura portuguesa, os casarões têm em média 170 anos e foram erguidos com pedras de cantaria (espécie de mármore), barro e cal.
A ausência de cimento ou concreto, aliada às infiltrações, torna as paredes vulneráveis a qualquer chuva mais forte. ``Se cair uma telha de uma altura de sete metros na cabeça de alguém, é morte certa", alerta o presidente do Crea, José Ribamar Franco Costa, 58.
O levantamento do Crea aconselha a Prefeitura de São Luís e o governo do Estado a evacuarem imediatamente os casarões ameaçados que ainda possuem moradores. O passo seguinte é erguer tapumes e escorar as paredes, para evitar a queda.
São Luís tem cerca de 4.000 imóveis tombados como patrimônio histórico da União (desde 1955) e do governo do Estado (desde 1986). Vários casarões abrigam cortiços e comércio.
É o maior conjunto de prédios tombados de todo o país, segundo o arquiteto Frederico Burnett, 47, diretor de Projetos Especiais da Secretaria Estadual de Cultura.
Apesar de determinada por leis estaduais, a conservação dos prédios históricos nem sempre é levada a sério pelos proprietários.
Outra dificuldade para a conservação é o custo da restauração: em média, R$ 400,00 o metro quadrado, incluindo mão-de-obra e material de construção.
``Muitos proprietários não restauram porque não enxergam retorno financeiro no imóvel", afirma Burnett. ``Caberia ao Estado reativar economicamente a área do centro histórico."
Burnett e o presidente do Crea também sugerem que o BEM (Banco do Estado do Maranhão) abra uma linha especial de crédito destinada a restaurações.
Sem crédito, a conservação do maior conjunto arquitetônico de origem portuguesa do país vai continuar dependendo de verba pública ou estrangeira.
Um convênio a ser assinado com o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) prevê a destinação de US$ 36 milhões para uma segunda etapa de restauração do centro histórico.
A primeira, na década de 80, denominada Projeto Reviver, transformou cerca de 200 casarões no bairro Praia Grande.
Mas o mesmo convênio exige que os cofres do Estado também contribuam com US$ 36 milhões, o que equivale a mais da metade do orçamento mensal do Maranhão.

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