São Paulo, terça-feira, 4 de julho de 1995
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Malandros e otários

ANTONIO CARLOS DE FARIA

RIO DE JANEIRO - Se segura, malandro. Esse é o slogan da campanha que pretende incentivar o uso do cinto de segurança no Rio. Uma referência à identificação do carioca com o sentido de esperteza da palavra malandro.
No passado já lendário, a cidade se dividia entre malandros e otários. Com um certo grau de desconforto, causado pelas formas modernas de classificação, até hoje subsiste essa divisão social que não parte de critérios de cor, dinheiro, sexo ou religião.
Na semana passada, os jornais locais serviram de campo para uma batalha entre botafoguenses e flamenguistas. Por meio de anúncios, os primeiros chamaram os segundos de otários. Os agredidos responderam prontamente.
Alardeando as qualidades de craques dos jogadores Túlio e Romário, alguns marmanjos publicaram anúncios em que se ofendiam mutuamente. Os dois lados queriam ser os malandros da história. Mesmo gastando dinheiro numa disputa inútil, afinal o campeão foi o Fluminense, ninguém admitiu ser otário.
A luta vã dos futebolistas exemplifica como são fluidos os critérios que separam os providos e desprovidos da esperteza. Algo que passa bem longe da divisão atual do mundo, em que países e indivíduos são qualificados pela eficiência.
Foi por eficiência que o Rio deve ter confirmada sua escolha como o Estado que vai sediar a nova fábrica da Volkswagen. Mas, nos bastidores da conquista dos investimentos alemães, um leve sorriso malandro apresenta os itens que decidiram a dura disputa com São Paulo.
No sincretismo dos novos e velhos conceitos, a esperteza é o tempero que dá gosto ao jogo dos competentes. Por isso o êxtase com o gol de barriga de Renato.
Nem sempre a malandragem potencializa a eficiência. Que o diga Romário. Conforme relato dos seguranças do Flamengo, ele passou a madrugada da final do campeonato com uma namorada, dentro de um carro, na frente da concentração.
O mundo de malandros e otários não é irreconciliável, ao contrário, ambos precisam um do outro para existir. Romário e seus anônimos defensores dos jornais se completam.

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