São Paulo, quarta-feira, 5 de julho de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

White mostra homossexualidade com lirismo

DANIEL PIZA
DA REPORTAGEM LOCAL

O título da edição brasileira, ``Um Jovem Americano", pode sugerir algo a ver com ``Libra", mas o que o livro de DeLillo tem de vigor o de Edmund White não tem. Mas há grande recompensa.
``A Boy's Own Story" (A Própria História de um Menino) é o título original desse romance escrito em 1982. O americano White, 45, era inédito no Brasil. O melhor livro dele é ``Forgetting Elena" (Esquecendo Elena), mas ``Um Jovem Americano" dá boa idéia de seu grande talento.
A Siciliano promete para este ano ainda ``The Beautiful Room Is Empty" (O Belo Quarto Está Vazio), que, com ``The Farewell Simphony" (A Sinfonia do Adeus), compõe uma trilogia.
White é portador do vírus da Aids. Seu tema central é o homossexualismo. Ao contrário de muitos outros, trata dele com lirismo e senso crítico ao mesmo tempo.
``Um Jovem Americano" narra a descoberta da homossexualidade por um menino e da reação a ela pelas pessoas mais próximas. É nesse entrechoque que lirismo e crítica também se confundem.
A história tem sabor bem americano ao descrever assim o universo adolescente, na linhagem que vai de Mark Twain (``Huckleberry Finn") a Tobias Wolff (``This Boy's Life"). E se distingue por sexualizar esse universo, sem sair dessa estilística.
O mais marcante no livro, que às vezes se perde num excesso de descrição detalhista, sensibilizada, é o retrato das provações que um garoto tem de passar para provar sua masculinidade: os ritos de briga, testes de força, conquistas de meninas. Se qualquer um sofre com a competitividade masculina, que dizer de um homossexual?
Mas não pense que o livro caia na vitimização. Há não uma aceitação, mas um distanciamento na narrativa, mesmo quando o narrador mostra seu pai, rude, e sua mãe, hiperprotetora.
Nem por isso White se exime de contundência. Veja como começa o capítulo dois: ``Quando eu tinha 14 anos, no verão anterior ao colegial, trabalhei para meu pai. Ele queria que eu aprendesse o valor de um dólar. Trabalhei e aprendi, com efeito, e economizei o suficiente para pagar um prostituto".
Mais adiante, falando sobre a frustração de seu pai em relação a seus ``fracassos" nos testes de virilidade, ele diz: ``Minha irmã era o seu verdadeiro filho. Ela sabia nadar e cavalgar dois quilômetros, e seus acessos de fúria eram tão bons quanto os dele".
Como em ``Libra", o livro de White -contando com uma tradução de qualidade superior- permite a compreensão da personalidade principal. Quando diz, ``Quanto mais me isolava, mais incapaz me imaginava de resistir a meu destino homossexual", você sabe por quê. O livro cria sua própria verdade.
(DP)

Livro: Um Jovem Americano
Autor: Edmund White
Tradução: Augusto de Oliveira
Páginas: 189
Preço: R$ 15,50

Texto Anterior: LEIA TRECHOS DE ENTREVISTA DE DELILLO
Próximo Texto: Coluna Joyce Pascowitch
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.