São Paulo, sexta-feira, 7 de julho de 1995
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FHC evita debate sobre 'guerra dos carros'

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A BUENOS AIRES

As principais entidades empresariais argentinas fizeram pressão para que o presidente Fernando Henrique Cardoso participasse de um debate com seus representantes durante sua estada na Argentina, a iniciar-se hoje.
Mas seus colegas brasileiros preferiram armar um esquema que prevê apenas o discurso de FHC, sem debates, para evitar que a chamada ``guerra dos carros" dominasse a cena.
O presidente vai falar durante almoço organizado pelo Grupo Brasil, um conglomerado que reúne cerca de 120 empresas brasileiras instaladas na Argentina, com investimentos que até o final de 1996 alcançarão cerca de US$ 700 milhões. Será no sábado, em almoço no Hotel Caesar Park.
Pouco antes, FHC terá participado das cerimônias de posse de seu colega Carlos Menem, reeleito para um mandato que vai até 1999.
Mas FHC não vai conseguir escapar do tema automóveis. Deve ser esse o assunto principal da audiência que terá hoje com Menem, no final da tarde, na residência oficial de Olivos, um subúrbio ao norte de Buenos Aires.
A crise dos carros fez com que ``muitos negócios (entre brasileiros e argentinos) fossem suspensos", diz o coordenador-geral do Grupo Brasil, Dickson Tangerino.
A relevância do tema, para os argentinos, transparece claramente no fato de três dos principais jornais locais terem publicado na primeira página de ontem a afirmação de FHC de que o Brasil não imporia cotas para importações de veículos argentinos.
Foram ``La Nación, ``Ámbito Financiero" e ``Clarín", o de maior circulação, que puxou a frase para a manchete principal do dia. O tom geral na mídia argentina foi o de que a decisão do governo brasileiro ``poria fim ao conflito automotor que chegou a fazer perigar o Mercosul", como afirma o jornal especializado ``Ámbito Financiero".
O Mercosul reúne, além de Brasil e Argentina, também Paraguai e Uruguai. A guerra supostamente abortada criaria constrangimentos para FHC se ele não tivesse escapado do debate com o empresariado argentino.
O jornal ``Página 12" cita ontem uma frase de dois empresários do setor automobilístico (Manuel Antelo e Jorge Aguado), que consideram ``alentadora" a declaração de FHC, mas emendam: ``Queremos vê-la por escrito antes de emitir um juízo".
É um evento patrocinado pela Abra (Associação de Bancos da República Argentina), que reúne os 55 bancos estrangeiros estabelecidos no país (seis brasileiros).
Se puder ouvir os empresários presentes, FHC vai se sentir em casa, pois as queixas são idênticas às que se ouvem no Brasil.
Exemplo: ``Se as taxas de juros permanecerem altas é impossível que o comércio possa desenvolver-se", reclama Jorge Di Fiori, presidente da Câmara Argentina de Comércio.
FHC só não poderá responder considerando, como o faz no Brasil, que os juros são ``escorchantes" porque a sensibilidade de Menem continua aguçada desde o episódio dos automóveis.

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