São Paulo, sexta-feira, 7 de julho de 1995
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Plano Real ajuda o país a escapar da crise

CLÓVIS ROSSI
DO ENVIADO ESPECIAL A BUENOS AIRES

``A Argentina necessita sim ou sim do Brasil". A frase, dita por um brasileiro, pode soar como prepotência.
Mas Dickson Esteves Tangerino, o autor da frase, sabe do que está falando, como coordenador-geral do Grupo Brasil, que reúne cerca de 120 empresas brasileiras instaladas na Argentina.
Os números e os argentinos avalizam a tese de Tangerino.
Balança comercial, por exemplo: déficit nas trocas de mercadorias com o exterior passou a ser pecado mortal desde a crise mexicana de dezembro.
A Argentina, então uma grande pecadora (déficit de US$ 5,7 bilhões em 94), passou a ter saldo desde março deste ano. No acumulado dos cinco primeiros meses, o saldo bateu em US$ 362 milhões.
Só o Brasil (até abril) respondeu por um lucro comercial argentino ainda maior (US$ 422 milhões). Inverteu-se uma tendência de 33 meses que durou até novembro.
Outro exemplo: investimentos. O Grupo Brasil começou, em março de 94, com 12 empresas.
Quando FHC, presidente eleito, falou ao grupo, em dezembro, a previsão de investimento até o final de 96 era de US$ 500 milhões. Hoje, é de US$ 700 milhões.
``Se não fosse pela fabricação e exportação de autos (principalmente para o Brasil), a crise econômica teria se produzido antes e teria sido muito mais dramática", analisa Rodolfo Terragno, jornalista que virou ministro no governo anterior e hoje é deputado federal pela União Cívica Radical, que seria parente próxima do PSDB.
Um ``paper" que o economista Dante Simone preparou para o Lloyds Bank traz, à mão, o que ele chama de ``três fatores-chaves" para a recuperação da balança comercial argentina: ``boa colheita, bons preços e Brasil".
Já a Oxford Analytica, consultoria britânica, lembra que, em 1989 (ano da posse de Menem), o Brasil era destinatário de 10% das exportações argentinas. Hoje, representa 34%, na média dos meses finais de 94 e iniciais de 95. É o maior mercado para a Argentina.
A dependência em relação ao que acontece no Brasil é tamanha que a mídia do país trata o vaivém da política econômica brasileira como uma espécie de evento local.
Na segunda-feira, o jornal especializado ``Ámbito Financiero" trazia um título eloquente: ``Se o Brasil desvalorizar (o real), a Argentina perde". Com gráfico mostrando que há relação direta entre a paridade real/peso e o resultado da balança comercial bilateral. Quando o real se valoriza, começa o saldo argentino e vice-versa.
É por isso que os agentes de mercado locais adaptaram uma velha brincadeira que dizia que, quando os Estados Unidos espirram, o mundo pega pneumonia. A frase agora troca EUA por Brasil e mundo por Argentina.
(CR)

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