São Paulo, sábado, 8 de julho de 1995
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Cartelas marcadas

JUCA KFOURI

O bingo foi contrabandeado para fazer parte da Lei Zico por inspiração do então deputado federal Onaireves Moura, cassado por falta de decoro parlamentar e ainda hoje presidente da Federação Paranaense de Futebol (sua mais recente benfeitoria, por sinal, foi dar o título de ``benemérito do futebol paranaense" a seu colega paulista Eduardo Farah).
Instituído mais um jogo no grande cassino nacional, o passo seguinte foi fraudar de todas as maneiras possíveis aquilo que fingia ser uma forma de auxiliar o esporte. A tal ponto que surgiram as inevitáveis CPIs, duas estaduais, em São Paulo e no Rio de Janeiro, e outra no Congresso Nacional. Todas para inglês ver e para dar um aval de decência ao ilícito.
Basta ver alguns dos nomes com relevância nas tais CPIs. Em São Paulo, por exemplo, quem a preside é o vice-presidente da CBF, Nabi Abi Chedid, que dispensa apresentações. No Rio, o presidente é o deputado Jorge Piciani, ex-secretário de Esportes do Estado e inventor de seu substituto, Jack London, hoje respondendo a inquéritos por sua atuação à frente da secretaria e dono de uma empresa de consultoria, por coincidência, para abertura de bingos.
Já em Brasília a farsa é de fazer corar. Por inspiração do ex-presidente da Portuguesa Arnaldo Faria de Sá, representante oficial dos bingueiros paulistas (e tendo como um dos lobistas o ex-diretor de árbitros da Federação Paulista de Futebol Adílson Monteiro Alves, cartola que enganou muita gente, incluindo este colunista), o relator é ninguém menos que Eurico Miranda, vice-presidente do Vasco.
No meio de tanta gente ilibada -o deputado Marcos Chedid, filho de Nabi, também tem papel importante na CPI federal-, apenas uma parlamentar importante destoa. Trata-se de Zulaiê Cobra Ribeiro, que preside a CPI após romper um acordo que fez com que o PMDB e o PFL se afastassem da Comissão -que funciona com apenas 10 dos 19 membros previstos.
Muito estranho. Há quem diga que, neófita no Congresso, a deputada foi ingênua, embora tenha ficado famosa a frase do doutor Ulysses que dizia que ninguém com tal característica chega a Brasília. ``O mais ingênuo dos deputados federais dá nó em pingo d'água com luvas de boxe", garantia.
Seja como for, agora em período de recesso, a CPI ouvirá no dia 9 de agosto Everardo Maciel, secretário da Receita Federal, um inimigo juramentado dos bingos. Mas provavelmente nem ele conseguirá mudar o jogo de cartelas marcadas.

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