São Paulo, sábado, 8 de julho de 1995
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Cultura gasta R$ 533 mil em publicidade

ELVIS CESAR BONASSA
DA REPORTAGEM LOCAL

A Secretaria Municipal de Cultura, comandada por Rodolfo Konder, gastou no mínimo R$ 533 mil em uma campanha publicitária de três semanas. Sob o pretexto de divulgar o serviço de informações telefônicas Disque-Cultura, a campanha serviu para alardear os ``1.040" eventos promovidos mensalmente pela secretaria.
Foi uma megacampanha. Foram usados comerciais de 30 segundos em todas as TVs, incluindo horário nobre da Rede Globo (novela das oito e ``Fantástico"), de seis a 12 anúncios diários em cada uma das emissoras de rádio AM de maior audiência, publicidade em 105 jornais (quatro de grande circulação e jornais de bairro) e 240 outdoors.
O custo oficial da campanha, R$ 533 mil, foi fornecido pela Secretaria de Planejamento. Agências de publicidade consultadas pela reportagem avaliam, no entanto, que o preço pode ter variado entre R$ 800 mil e R$ 1 milhão.
As contas oficiais têm algumas inconsistências. Mostram, por exemplo, um gasto de apenas R$ 180 mil com TV (um total de aproximadamente cem inserções), o meio de comunicação mais caro, contra R$ 77 mil, um pouco menos da metade, com 140 outdoors (outros cem foram gratuitos).
Mesmo considerando a conta oficial, os recursos gastos seriam suficientes para atividades culturais mais importantes do que a autopromoção. A estátua de Rodin ``O Repouso do Gênio Eterno", por exemplo, custou menos da metade, R$ 240 mil, para ficar definitivamente em São Paulo.
Os mesmos R$ 530 mil são suficientes para organizar a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, um dos mais importantes acontecimentos culturais da cidade, que já chega à sua 19ª edição.
Com o mesmo dinheiro seria possível, ainda, equipar as bibliotecas municipais com 330 microcomputadores ou mesmo recuperar livros estragados. As bibliotecas ainda têm um antiquado sistema de fichários, além do acervo em deterioração (leia quadro ao lado).
A campanha foi deflagrada na segunda quinzena de junho. No início do mesmo mês (04/06), a Folha havia publicado reportagem mostrando problemas na secretaria, voltada para a promoção de eventos que dêem visibilidade à atual administração, enquanto descuida da manutenção de atividades menos vistosas, porém culturalmente mais importantes.
A campanha publicitária, preocupada em recuperar a imagem do governo municipal nessa área, acabou por confirmar que a orientação cultural da prefeitura é o marketing.
Junto com o telefone 253-6111, que fornece parte da programação oferecida pela secretaria, foi repisado o número de 1.040 eventos organizados por mês.
Sob a cifra, estão incluídos eventos que alargam o conceito de cultura. O que conta é a quantidade. Em maio, por exemplo, houve uma oficina destinada a ensinar como se faz uma carta para o Dia das Mães.
Neste mês, ajudam a compor a agenda, entre outros: curso de aeróbica na Oficina de Cultura de Interlagos, astrologia na Casa de Cultura do Ipiranga, festival de piadas na Biblioteca Cassiano Ricardo.

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