São Paulo, sábado, 8 de julho de 1995
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Solo de Natalie Merchant decepciona

MARA GAMA
EDITORA-ADJUNTA DA ILUSTRADA

``Está tudo cinza" na música de Natalie Merchant, a ex-vocalista, letrista e líder do 10.000 Maniacs. Esse é um verso de ``I May Know The Word", música que integra o disco solo da cantora, e traduz a sensação que se tem ao ouvi-lo.
``Tigerlily", com lançamento previsto para agosto no Brasil, vai dividir os fãs de Merchant.
Para alguns, vai confirmar o talento da cantora, a sensibilidade da autora. Para outros, que devem ser maioria, o disco vai dar saudades dos outros 9.999 maníacos, encarnados por quatro sujeitos da velha banda, com quem Merchant gravou seis álbuns.
Aguardado desde a dissolução dos 10.000 Maniacs, o disco de Merchant não tem a força do ``10.000 Maniacs MTV Unplugged", gravado no começo de 1993 nos Estados Unidos e lançado no Brasil em janeiro de 1994.
O ``Unplugged" vendeu 25.400 cópias por aqui. Por causa dele, muita gente descobriu os Maniacs, que já estavam desfazendo o grupo. É uma das razões da expectativa em relação ao disco solo de Natalie Merchant.
O novo disco também não se compara ao genial ``Our Time in Eden", de 1992. São desse último os sucessos ``These are The Days", ``Noah's Dove", ``Stockton Gala Days" e ``Candy Everybody Wants", que ganharam versão acústica no seguinte.
Apontado pela ``Time" como o melhor disco da banda, ``Our Time in Eden" vendeu só 4.200 cópias no Brasil. Por ironia do destino, o crítico da revista norte-americana previa, em 1992, vida longa ao grupo, que considerava de difícil classificação, mas de competência notável.

Folk careta
No novo disco, Merchant optou por uma banda de acompanhamento -com baixo, guitarra e bateria- e esqueceu-se da música. Do mix entre folk e rock que era a fórmula básica para o 10.000 Maniacs, não sobrou rock nenhum e um folk meio careta demais.
Para dar mais força às suas letras, deixou de lado a melodia. Até aí, tudo bem. Como cantora, é normal que queira explorar sua voz sem ``concorrência". O problema é que como letrista Merchant não está em boa fase.
Em versos e entonação, ela está mais triste, mais séria, mais discursiva e solene. O pior exemplo é ``River", homenagem ao ator River Phoenix, morto aos 23, de overdose, quando saía de um clube em Hollywood, em 1993.
O ``single" ``Carnival" dá até para dançar, mas não se compara aos hits antigos. ``Beloved Wife" e ``Seven Years" são escritas para chorar. As únicas músicas que convidam à diversão são as baladinhas ``Where I Go" e ``Cowboy Romance".

Disco: Tigerlily
Cantora: Natalie Merchant
Lançamento: Warner
Preço: R$ 25 (o CD importado, em média)

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