São Paulo, domingo, 9 de julho de 1995
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Cidade tem megatemporada de exposições

DANIEL PIZA
DA REPORTAGEM LOCAL

É difícil lembrar outra época com tantas boas exposições simultâneas em São Paulo. Na cidade que tem a terceira mais importante bienal internacional, o maior mercado de arte do país e os melhores acervos, parece estar surgindo o hábito de ir a galerias e museus, em geral bem pouco praticado.
Mas quem não foi a nenhuma das dez ou doze exposições que atualmente vale a pena visitar em São Paulo (veja duas opções de roteiro ao lado) tem de se servir logo: o banquete está acabando.
Hoje é o último dia de três boas exposições na Fundação Bienal. Uma delas é fundamental: ``História de Ver", uma retrospectiva de 150 anos de fotografia contada pelas imagens dos mestres.
O crítico e poeta americano Ezra Pound dizia sempre que, se você quer ``entender" de arte, tudo que tem a fazer é ir olhar os quadros. ``História de Ver", como mostra o título, é prova concreta dessa filosofia. O passeio atento diante das 147 imagens é a melhor aula de história da fotografia que se poderia dar em duas horas.
Também termina hoje a exposição de Oliviero Toscani. Ele é o fotógrafo da Benetton que as pessoas costumam adjetivar de ``polêmico" porque inclui em seus trabalhos publicitários, por exemplo, denúncias contra o racismo e a discriminação aos portadores do HIV. Mas mesmo denúncia exige certa arte, e a qualidade de Toscani ainda não é tão grande quanto a quantidade de polêmica sobre ele.
A terceira exposição que hoje sai do cardápio cultural paulistano é ``Bienal Fotojornalismo Brasileiro", com trabalhos de 1990 a 1995 que provam que, no setor, ninguém pode nos dizer carentes.
A exposição mais visitada e comentada do ano também está no fim. As 60 esculturas de Auguste Rodin deixam a Pinacoteca na próxima quinta-feira. Se você ainda não foi, ou não conseguiu entrar, prepare-se. As filas já estavam longas (algumas chegaram a sete horas!), então imagine como vão estar nesta última semana.
Vale o tormento? Bem, se você pensar que um dia antes do Hollywood Rock já tem gente se apinhando em barracas para conseguir lugar, é claro que sim.
Rodin não é só o pai da escultura moderna: nenhum escultor moderno -nem mesmo Henry Moore ou Alberto Giacometti- colocou a gama de expressões humanas que ele pôs em sua obra.
Outra exposição magistral -ou seja, de mestre- que deve ser saboreada ainda nesta semana é a de gravuras de Antoni Tàpies, na Dan Galeria, com encerramento previsto para o próximo sábado.
O espanhol Tàpies, 72, é dos maiores pintores vivos e candidato ao maior entre os ativos, já que o holandês Willem de Kooning está com 91 anos e aposentado.
Sua arte tem a força do expressionismo abstrato (corrente que surgiu nos EUA nos anos 50 e de que De Kooning foi um dos expoentes) e o know-how simbólico herdado do modernista Joan Miró (que espalhava signos pela tela como se fossem constelações).
História da fotografia, Rodin, Tàpies. Quer mais? Pois vá ao Museu de Arte Moderna, até o dia 30, e confira o que quer a arte contemporânea, na versão estrangeira e na nacional.
Lá está ``The Self which Is not One" (O Eu que não É um só), obras da artista plástica -que não gosta de se dizer fotógrafa, ao contrário de Toscani- Cindy Sherman, uma americana muito badalada desde os anos 80.
Sherman usa fotos de bonecas em posições bastante desenvoltas e de mulheres (ela mesma, mas não use a expressão ``auto-retrato", que ela rejeita) travestidas, posando com perucas barrocas e seios que jorram leite.
Não se assuste se você não se decidir o que pensar dessas fotos. Ninguém decidiu ainda, direito. Há uma estetização exagerada, beirando o maneirismo, e há uma certa facilidade sugerida pela intenção -que, esta sim, ela assume- de chocar. Pior: há uma clara impressão de que aquilo tudo vai logo ficar datado. Mas não há jeito de chamar esse trabalho de ``desinteressante".
A versão nacional da arte contemporânea é dada no MAM por ``Entre o Desenho e a Escultura", que mostra como as duas linguagens têm fronteiras tênues dos anos 60 para cá, embora tenha sido no modernismo o início disso.
Pela cidade há também individuais de outros artistas do panorama brasileiro atual, como Anna Maria Maiolino e Caetano de Almeida. Se arte é fazer ver, como dizia o escritor Joseph Conrad, basta abrir os olhos. Em Sampa.

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