São Paulo, domingo, 9 de julho de 1995
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'Futuro do multiculturalismo é sombrio'

MICHAEL LIND
DA REDAÇÃO

Leia a seguir alguns trechos do livro "A Nova Nação Americana", do jornalista norte-americano Michael Lind.

"Se a América multicultural resistir por mais uma ou duas gerações, o futuro para os Estados Unidos será sombrio, com uma queda de rendimentos para a maioria transracial americana e de crescente ressentimento contra a afluente e dominante oligarquia branca. É improvável ocorrer a balcanização da América por meio de uma guerra civil entre raças. A cultura vernácula americana é tão atraente que fragmentará até mesmo a mais forte das culturas imigrantes. Casamentos interraciais já estão minando categorias raciais. A verdadeira ameaça não é a balcanização, mas a brasilização dos EUA, não com uma fragmentação das raças, mas uma divisão de classes.
A brasilização está simbolizada pelo maior retraimento da classe dominante branca americana em sua própria nação dentro da nação barricada: um mundo de bairros particulares, escolas particulares, polícia particular, assistência médica particular, e até mesmo estradas particulares.
Como uma oligarquia latino-americana, os membros da classe dominante, ricos e com bons contatos, podem prosperar numa América decadente e com os níveis de desigualdade e crime ao nível do Terceiro Mundo.
Este futuro sombrio não pode ser evitado por meio de reformas triviais como a pseudopopulista artimanha da direita plutocrática (corte de impostos) ou a panacéia tecnocrática dos neoliberais (retreinamento de trabalhadores). Renovar a nação-Estado americana exige uma verdadeira, não apenas metafórica, revolução na política e na sociedade, uma revolução como a devastadora Guerra Civil pelos direitos -embora esperemos não tão violenta.
O objetivo do nacionalismo liberal, como movimento político, poderá desmantelar a América multicultural e substituí-la pela Quarta República dos Estados Unidos.
Brasilização
"É comum o comentário de que multiculturalismo e preferência social estão balcanizando os Estados Unidos. Mas é um erro falar sobre a ameaça da unidade nacional como balcanização -a fragmentação dos EUA ao longo das linhas étnicas. Atualmente, as comunidades imigrantes latino-americanas e asiáticas certamente seguirão os passos dos imigrantes anteriores e adotarão a língua inglesa e a cultura nacional. Este processo de assimilação poderá ser retardado devido aos altos índices de imigração e também pelo "bilinguismo", mas não será freado. Também não há perigo de uma escalada na violência nas comunidades culminando numa guerra verdadeira como nos Bálcãs. A maior ameaça de violência nos EUA provém da classe baixa negra urbana, que não tem uma nacionalidade diferente, e não pode aspirar a uma pátria nacional.
O principal perigo dos EUA no século 21 não é a balcanização, mas o que podemos chamar de brasilização, ou seja, não a separação de culturas pela raça, mas a separação de raças pela classe. Como no Brasil, poderá haver uma cultura americana em comum compatível com um sistema de castas informal no qual a maioria no topo da hierarquia social é de brancos, e a maioria de mulatos e negros estará nas camadas baixas -para sempre."

Tradução de Lise Aron

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