São Paulo, domingo, 9 de julho de 1995 |
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Sonho perigoso Os juros nos Estados Unidos caíram de 6% para 5,75%. As reações no mundo inteiro e no Brasil, em particular, foram eufóricas. A Bolsa paulista, que disparara já na quinta-feira, registrou na sexta uma alta de 3,68%. Juros menores nos EUA têm como resultado imediato uma revalorização de oportunidades de retorno maiores alhures, ainda que mais arriscadas. O volume negociado na Bolsa de Valores paulista no final da semana, R$ 320 milhões, voltou a lembrar os bons tempos de expansão vigorosa, anterior à crise mexicana. Euforia semelhante espraiou-se pelos mercados latino-americanos, provocando alta em todas as Bolsas. Outro efeito da notícia foi sentido nos mercados internacionais de moedas. O dólar fortaleceu-se diante do iene e do marco alemão. Todos esses sinais têm um significado em comum: na busca de retornos mais polpudos, os capitais globais estarão mais dispostos, nas próximas semanas, a assumir novos riscos e, em particular, terão algum papel no financiamento dos desequilíbrios econômicos de países como Brasil, México e Argentina. Dois dias de euforia nos mercados globais, entretanto, são ainda pouco para justificar a tese de que todo o mal já passou nos seis meses desde a crise mexicana. Se, de um lado, é verdade que as taxas menores no centro aliviam as condições de ajuste e financiamento na periferia do sistema econômico mundial, de outro, é preciso lembrar que a ``débâcle" mexicana ensinou alguma coisa aos investidores. Somente os mais ingênuos ainda seriam capazes de afirmar, hoje, que o sonho não acabou. Os fundamentos das economias latinas foram -e continuam- abalados por desajustes reais. São hoje muito maiores a necessidade e a disposição do investidor europeu ou americano de examinar com mais detalhe cada país. Nada impede, por exemplo, que o efeito dos juros menores seja muito mais positivo sobre os mercados emergentes asiáticos, que passaram praticamente ilesos pela crise deflagrada no México. No caso brasileiro, é legítimo esperar que o interesse seja significativo. A privatização aqui ainda tem muito a oferecer, os juros continuam elevados e a pujança econômica é, como sempre, inegável. Mas não há como ignorar que financiar os desacertos no câmbio, no comércio exterior e nas contas públicas apenas com dinheiro externo tende a ser visto com redobrada cautela. Sonhar não é proibido, mas, apesar do alívio externo, ainda é urgente ficar acordado. Próximo Texto: Tribunal de Contas para quê? Índice |
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