São Paulo, domingo, 9 de julho de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

o outro lado da noite

CRISTINA ZAHAR

Algumas conclusões da pesquisa são surpreendentes. O gênero musical predileto dos entrevistados não é a dance music -que normalmente predomina na programação da maioria das casas noturnas- e sim o reggae, com 66% das preferências. Em segundo lugar vem o rock, com 56%. A dance ocupa a penúltima posição entre 12 ritmos citados.
Outro dado interessante é o "top of mind" (casas que primeiro vêm à cabeça das pessoas). A mais citada, com 17%, foi Banana Banana. Em segundo lugar, empatadas com 13%, aparecem Toco e Resumo da Ópera. Essas posições mudam quando são consideradas outras menções de casas noturnas. Neste caso, o troféu vai para a danceteria Stravaganza, no bairro de Pinheiros, com 42%.
Toledo afirma que o mais interessante é o fato de as pessoas não serem fiéis a apenas uma discoteca. Os entrevistados apontaram 300 casas noturnas paulistanas, o que mostra a concorrência no setor.
Casas pioneiras
Mesmo com tanta competição, há quem não largue o osso dos Jardins. Sandro Samelli, um dos sócios do clube Limelight, acha que é normal os bairros se tornarem auto-suficientes em termos de comércio e lazer. "É uma tendência de qualquer cidade em desenvolvimento". Ele diz que casas como Toco e Broadway têm público fiel porque são pioneiras e souberam criar raízes nos bairros em que se estabeleceram.
Samelli diz que não pensa em abrir um Limelight na Mooca. "O padrão da casa não me deixaria cobrar mais barato." Ele afirma ter feito o caminho inverso dos empresários dos Jardins. Começou com casas mais afastadas e com capacidade maior, como o "pré-histórico" Latitude 2.001 (na avenida 23 de Maio) e o Reggae Night (em Interlagos), até chegar ao Limelight.
"É difícil segurar uma casa para 2.000 pessoas por mais de seis meses. A Toco consegue isso porque é uma lenda", diz Samelli.
Mas ele também não está parado. Seus próximos planos incluem franquear a marca Limelight para outras cidades e construir um centro em Pinheiros, entre os shoppings Iguatemi e Eldorado. Conforme o projeto, será uma vila que abrigará agência de modelos por telefone, revista de moda e um café no estilo do Fashion Café, de Nova York.
Dando de dez
Quando se analisam os números, a zona leste dá de dez na zona sul. O Banana Banana, por exemplo, abre todos os dias e tem uma frequência média de 700 pessoas por noite, contando o café e a boate. Seu público varia dos 19 aos 40 anos. Já a Toco, que recebe um público cuja idade varia entre 12 e 15 anos na matinê e de 16 a 20 anos de sexta a domingo, recebe 7.500 pessoas a cada final de semana.
A frequência cresce assustadoramente quando se somam os números das casas black Sunset e Projeto Radial: 13.000 pessoas por fim-de-semana, entre 18 e 22 anos.
Os preços dos ingressos também ajudam. Enquanto no Limelight as taxas de entrada custam R$ 20 ou R$ 25, dependendo do dia da semana, na Overnight mulheres pagam R$ 6 e homens, R$ 8. Na Twists e na Ocean Drive, que trabalham para um público classe A, segundo William Crunfli, os ingressos custam um pouco mais caro: de R$ 10 a R$ 15.
Tranquilos, os donos da "outra noite" não temem concorrência, acham até que há espaço para mais empresários nessa região da cidade.
"Nossas casas estão aí há muito tempo, mas só agora as pessoas estão percebendo isso. Os Jardins estão saturados. Montaram 200 bares na Vila Madalena e em Pinheiros. O pessoal fica enjoado de frequentar os mesmos lugares", diz William, citando o sucesso de bares dançantes na serra da Cantareira.
"O nosso público é mais garotada. A casa do José Victor Oliva na Mooca terá um conceito diferente. Seu estilo é outro", diz Carmo Crunfli.
Quem ganha mais com a competição, claro, são os consumidores de diversão e movimento.

Texto Anterior: o outro lado da noite
Próximo Texto: muitos vão "de turma" e alguns levam os pais
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.