São Paulo, terça-feira, 11 de julho de 1995
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Agricultura inicia 'marcha sobre Brasília'

CLÓVIS ROSSI
DA REPORTAGEM LOCAL

Assustados com uma perda de receita calculada em R$ 5,6 bilhões este ano, na comparação com 1994, o setor agrícola decidiu pôr o pé na estrada e marchar sobre Brasília.
``Não posso plantar - Marcha sobre Brasília", nome oficial do movimento, parte amanhã de Uruguaiana, no extremo sul gaúcho, e chega dia 18 a Brasília.
No percurso, arrebanha os produtores de Santa Catarina e do Paraná e entra em São Paulo, pela região de Assis, no final da tarde de sexta-feira, 14.
Aos agricultores dos quatro Estados, juntam-se, a partir daí, produtores do Triângulo Mineiro (Uberaba e Uberlândia, principalmente).
Quando o ``caminhonaço", como está sendo chamado, atingir Brasília será a ``mais forte manifestação da história da agricultura", disse à Folha Mário Bertani, presidente da Cooperativa de Produtores de Espumoso (RS), um dos coordenadores.
A marcha sobre Brasília é iniciativa de cooperativas e sindicatos de produtores, sem apoio das entidades agrícolas tradicionais.
Não que estas estejam satisfeitas com a situação. Apenas decidiram marchar sobre Brasília de maneira silenciosa.
A Farsul (Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul), por exemplo, encomendou estudos ao jurista Ives Gandra para saber das chances de recorrer à Justiça contra o governo.
A entidade considera que a cobrança da TR (Taxa Referencial) sobre as dívidas da agricultura é ilegal. O governo autorizou a rolagem de apenas 20% a 30% de tais dívidas por um ou dois anos.
Autorizou também o uso da TJLP (Taxa de Juros de Longo Prazo, mais baixa do que a TR), para os futuros financiamentos.
Mas o restante das dívidas existentes terá de ser pago agora e com a TR, que faz o ``agricultor brasileiro pagar a maior taxa de juros reais do mundo", na avaliação de José Cordeiro de Araujo, assessor da Câmara Federal na área de Política Agrícola.
Pela via judicial ou pela estrada, os agricultores pretendem ``demonstrar à nação e ao governo a situação de miserabilidade da agricultura e a importância estratégica dela para o país", diz Bertani.
A marcha usa, inclusive, a mão espalmada com os cinco dedos, símbolo da campanha de Fernando Henrique Cardoso, mas com outro sentido, o da impossibilidade de plantar a próxima safra.
No caso específico do trigo, já há números para calcular os estragos no futuro imediato. Semeada 90% da safra, a área plantada é entre 38% e 40% menor do que no ano passado, pelo menos no Rio Grande do Sul.
No conjunto da produção agropecuária, a previsão é igualmente de turbulência.
``O governo corre o risco de desestabilizar o setor para o ano que vem", avalia Pedro de Camargo Neto, vice-presidente da SRB (Sociedade Rural Brasileira).
Mas Camargo acha que ainda há tempo de o governo tomar providências para evitar tal risco.
``Os indicadores de frustração da safra 1996 só surgirão mesmo em final de agosto ou começo de setembro. Até, ainda dá para o governo mexer na sua política", diz o vice-presidente da SRB.

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