São Paulo, terça-feira, 11 de julho de 1995 |
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Metaleiro vira judeu para casar
PATRICIA DECIA
O Sepultura é a banda brasileira que mais vende discos no exterior. O último CD, ``Chaos A.D.", já vendeu cerca de 1 milhão de cópias. A cerimônia foi celebrada pelo presidente do rabinato da CIP, Henry Sobel, 51, e seguiu a tradição judaica. ``Estou investindo nesse casal para que eles possam garantir a continuidade das nossas tradições. Em vez de perder uma, ganhei dois", afirmou. Segundo Sobel, o fato de Igor fazer parte de uma banda de thrash metal (estilo pesado, rápido e ensurdecedor de rock) não atrapalhou sua conversão. ``Ele é um ser humano e foi julgado como tal, não como um profissional", disse Sobel. Cavalera teve que fazer um curso de um ano sobre judaísmo, além da circuncisão (operação para a retirada do prepúcio), feita com anestesia local, no hospital Albert Einstein. ``Foi legal. Teria feito mesmo que não fosse me converter", disse Cavalera. Mônika casou-se vestida de noiva, com os ombros de fora, mostrando duas tatuagens: o S de Sepultura e uma rosa. ``Eu sempre quis casar na sinagoga. Chorei do começo ao fim", disse. Cavalera usou um casaco preto e cinza, camisa com babados na manga e no peito e um laço como gravata. O traje foi inspirado nos figurinos do filme ``Minha Amada Imortal", que conta a vida do músico Beethoven. Os dois moram juntos há dois anos, em Encinitas, Califórnia (EUA). Segundo Igor, o casamento tradicional foi uma escolha de Mônika. ``Estava superafastado do catolicismo e, se a cerimônia foi importante para ela, foi para mim", disse Cavalera. No religioso, os padrinhos foram parentes da noiva porque deveriam ser judeus. Já no civil, Cavalera escolheu Eduardo Rocha e o vereador Alberto ``Turco Loco" Hiar. A mãe e a irmã de Igor não vieram para o casamento porque não podem sair dos EUA. ``Elas correriam o risco de não conseguir novo visto de entrada", disse Mônika. O traje predominante entre os convidados do mundo do rock foi terno e gravata, devidamente acompanhado do solidéu. Só João Gordo, vocalista da banda Ratos do Porão, apareceu de coturno, calça preta e camiseta. ``Estava podrão. Fiquei até com vergonha", disse Gordo. A festa aconteceu no Buffet França, em Higienópolis (zona oeste), para 650 convidados, com comida kasher (preparada segundo tradições judaicas). O som foi pilotado por um conjunto de baile, com valsa para os noivos. A trilha sonora misturava mambo, rumba, discoteca e música judaíca. ``Colocamos os cabeludos para curtir um som tradicional", disse Cavalera. O rock ficou de fora por escolha do casal. ``Seria como um jogador de futebol jogando bola no seu casamento", disse Cavalera. Durante a festa, apareceu um cantor vestido de Elvis Presley. ``Pularam no pescoço dele, ficaram beijando o cara e até quebraram seu óculos", conta Mônika. ``Quando ele subiu no palco, estava destruído", afirmou. A festa acabou quando o conjunto começou a tocar pagode. ``Lá vem o negão..." afugentou os roqueiros. Texto Anterior: Marcha contra o racismo quer reunir 100 mil Próximo Texto: Internet ainda `assusta' professores Índice |
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