São Paulo, quarta-feira, 12 de julho de 1995
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Chirac é vaiado no Parlamento Europeu

VINÍCIUS TORRES FREIRE
DE PARIS

O presidente francês, Jacques Chirac, foi vaiado e quase não conseguiu discursar no Parlamento Europeu, ontem em Estrasburgo, leste da França.
Deputados europeus socialistas e verdes gritavam "não" em protesto contra os testes nucleares que os franceses pretendem realizar a partir de setembro no atol de Mururoa (Polinésia Francesa, no oceano Pacífico).
Chirac fazia o balanço da gestão francesa na direção da União Européia. À tarde, reuniu-se com o chanceler alemão, Helmut Kohl, na 65ª cúpula franco-alemã.
Os parlamentares mostravam cartazes com um cogumelo atômico, assobiavam e gritavam.
Durante a sessão, o presidente foi chamado de "Rambo neo-gaullista", menção ao violento personagem vivido por Silvester Stallone no cinema e ao partido de Chirac (RPR, conservador).
Chirac sorria amarelo. O presidente do parlamento, o alemão Klaus Hansch, teve de intervir para que o presidente francês pudesse falar.
Deputados de direita diziam "cala-bocas" aos de esquerda, que também abriram guarda-chuvas azuis para protestar contra a política nuclear francesa.
Friedrich Wolf, deputado verde alemão, disse a Chirac que "Mururoa é um símbolo da arrogância do poder, um crime nuclear, uma barbaridade". Wolf também chamou Chirac de "Rambo".
"Observo uma certa emoção, que compreendo mas não partilho, temos que considerar estas questões com a cabeça. De forma realista, não ideológica", disse Chirac ao responder indiretamente aos protestos, no final de seu discurso.
O presidente francês disse que seu país vai assinar, no outono do ano que vem, o tratado que proíbe testes nucleares.
Helmut Kohl mencionou os testes nucleares em encontro privado de 15 minutos com seu colega francês. Chirac lhe retrucou que a decisão de explodir bombas no Pacífico era um "assunto francês".
Fora do Parlamento, cerca de 40 manifestantes do Greenpeace se acorrentaram às grades do edifício e tocavam sirenes semelhantes a alarmes de bombardeio aéreo.
A polícia francesa usou maçaricos para soltar os ambientalistas das grades. Onze foram presos.
O objetivo da cúpula era discutir a unificação monetária da Europa. Chirac disse que França e Alemanha têm posições essencialmente semelhantes sobre o assunto.

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