São Paulo, segunda-feira, 17 de julho de 1995
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Ex-ministro assume empreiteira

XICO SÁ
ENVIADO ESPECIAL A CAMPINAS

No governo federal, a quem serviu até o ano passado, ele soltou o verbo contra os empreiteiros e até ameaçou proibir empresas suspeitas de corrupção de participar de licitações públicas.
Agora, o general Romildo Canhim, que comandou a CEI (Comissão Especial de Investigação), que investigou construtoras no governo Itamar, movimenta-se nos corredores dos órgãos públicos para fazer lobby e receber dívidas dos empreiteiros. Apenas 15 dias de férias separaram Canhim das atividades do governo do novo emprego.
No posto de vice-presidente da Lix da Cunha, uma construtora de porte médio de Campinas (SP), o ex-ministro da Administração convive bem com ex-desafetos e ensaia um carreira de sucesso na nova atividade.
``Hoje, a relação (com os empreiteiros) é muito melhor do que esperava", disse Canhim à Folha. ``Eles sabem que nada daquilo foi feito de forma pessoal".
Na CEI, o ex-ministro investigou contratos de obras públicas relacionados às irregularidades apontadas pela CPI do Orçamento. A comissão apurou, em 1993, uso ilegal de verbas públicas por parte de deputados e senadores.
A Lix foi apontada como suspeita pelas ``ligações estreitas" com um dos chamados ``anões do Orçamento", o ex-deputado Manoel Moreira (PMDB).
O parlamentar renunciou ao mandato depois que a CPI o acusou de enriquecimento ilícito. Moreira, segundo a comissão, teria beneficiado a Lix com emendas para liberar recursos para obras de hospitais.
A diretoria da empreiteira de Campinas, mesma cidade de Moreira, negou qualquer envolvimento com as irregularidades. Na CEI, passou ilesa, sem nenhuma acusação.
``Jamais apareceu ou me deparei com algum contrato irregular da empresa (Lix)", disse Canhim. ``E, se aparecesse, ela teria o mesmo tratamento."
Segundo o vice-presidente da empreiteira, o novo emprego só foi aceito devido à seriedade da firma, com quem mantém ligações de amizade há muito tempo.
Os laços de amizade com a família dona da empreiteira e a competência que Canhim mostrou no governo, segundo a Lix, foram os motivos da contratação.
Com US$ 40 milhões a receber do governo Covas em São Paulo, Canhim tem procurado secretários e presidentes das estatais para tentar convencê-los a liberar recursos.
Reconhece que o governo paulista tem ``boas intenções", mas enfrenta dificuldades para pagar as dívidas.
Em relação ao governo federal, a situação é boa: os pagamentos estão praticamente em dia. A empresa tem contratos para a construção de 565 Centros de Atenção Integrada à Criança. Modesto, o general conta que não teve papel importante nesse ajuste da dívida federal.
Um encontro recente entre o general e o dono de uma construtora mostrou que os tempos mudaram. Canhim estava na sede do Banco Itamaraty, negociando uma dívida da Lix. No encontro, trocou gentilezas com Olacyr de Moraes, dono do banco e da empreiteira Constran.
Em 94, Olacyr disse que Canhim usava métodos ``nazistas" para tentar caçar empreiteiros. O general respondeu: ``Ele está nervoso e acredito que deve saber por quê". Na época, a comissão havia apontado irregularidades em uma obra da Constran.

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