São Paulo, segunda-feira, 17 de julho de 1995
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VW implanta em Resende sistema inédito de produção

ANTONIO CARLOS SEIDL
DA REPORTAGEM LOCAL

Com a inauguração, no ano que vem, de sua fábrica de caminhões e ônibus em Resende (RJ), a Volkswagen dará início a uma nova era na história das montadoras de veículos.
Trata-se do lançamento de um processo revolucionário de produção. Chamado de ``consórcio modular", é a primeira grande inovação desde que foi implantada a linha de montagem na indústria automotiva.
Criado por José Ignacio López de Arriortúa, vice-presidente mundial da Volks, o processo, inédito no mundo, divide a linha de montagem em módulos operados por fornecedores.
Os fornecedores trabalharão dentro da fábrica e serão responsáveis pela produção de todos os componentes.
A fábrica de Resende, um investimento de US$ 250 milhões, terá de oito a dez módulos, cada um operado por fornecedor principal.
Também chamado de consorciado, o fornecedor cuidará de implantar, com operários próprios (ou de subfornecedores), todo o processo pelo qual é responsável.
Na prática, o ``consórcio modular" opera como se fossem várias fábricas dentro de uma fábrica.
As peças e componentes do veículo deixam de ser colocados um a um, individualmente, por empregados da montadora, na linha de montagem.
A principal diferença do novo processo é que cada módulo, operado por terceiros, se encarrega da montagem de uma parte inteira do veículo.
Os fornecedores principais, atualmente em fase de escolha pela Volks, se responsabilizarão pela montagem de conjuntos completos em cada módulo de produção.
Os módulos operados pelos parceiros da montadora serão, na sequência da montagem, chassis; eixos, suspensão e molas; rodas e pneus; caixa de câmbio e motores e cabines.
O processo começa pelo módulo do chassis, onde são colocados os pára-choques, bateria, sistema elétrico básico das luzes, degrau da cabine, tanque de gasolina.
No módulo seguinte, o dos eixos, serão acoplados os amortecedores, rodas e molas. Depois desse módulo, as rodas e os pneus.
O fornecedor de motores, no módulo seguinte, o mais importante do conjunto motriz do caminhão, instalará o motor, mais a caixa de câmbio, filtros, cano de escapamento, motor de partida, alternador e o chicote elétrico.
No último módulo, o fabricante de cabine fornecerá a cabine já pintada e instalará todas as partes que compõem a cabine, tais como portas, bancos, ar-condicionado, tapetes e o painel de instrumentos.
O fabricante do painel de instrumentos, ao contrário do que ocorre atualmente, vai entregar ao responsável pelo módulo da cabine o conjunto completo, com todos os relógios, sistema de ar, tampa do porta-luvas.
Miguel Jorge, vice-presidente de Recursos Humanos, Assuntos Legais e Corporativos da Volks, diz que as principais vantagens do novo processo são a redução dos custos fixos, melhoria da eficiência e aumento da qualidade.
Ao terceirizar, por meio de seus fornecedores principais, a fabricação dos componentes do veículo, a montadora reduz custo de estoques.
Jorge destaca a questão da qualidade por causa do envolvimento direto do fornecedor na produção. ``Não se trata mais de um fornecedor mandar uma peça para a montadora sem se preocupar com o problema de qualidade", diz. ``Ele vai estar junto, terá uma responsabilidade mais objetiva".
A montadora e os consorciados vão compartilhar as instalações e dividir as despesas de manutenção de toda a infra-estrutura, desde o restaurante e o serviço de telefonia até o setor de informática.
``Isso significa uma redução de custos para todos no processo", afirma.
A unidade de caminhões e ônibus da Volks em Resende será a primeira e única fábrica desses tipos de veículos da empresa no mundo inteiro.
A unidade inicia suas atividades em 96, com uma produção de 30 mil caminhões/ônibus. A meta é atingir 40 mil unidades em 97.
A fábrica vai gerar 1.500 empregos diretos, entre funcionários contratados pela Volks (300), que serão os coordenadores do processo, e pelos fornecedores (1.200).
Além do processo inédito de produção em módulos, a fábrica funcionará junto com um centro de pesquisa e desenvolvimento, que será o centro de excelência para caminhões e ônibus da Volks em todo o mundo.
``Todo desenvolvimento, desde o projeto até os testes, será feito por engenheiros brasileiros", diz Miguel Jorge.
Com isso, a subsidiária brasileira deterá o know-how do processo de desenvolvimento de caminhões e ônibus pela Volkswagen.
``É a primeira vez que uma multinacional de grande porte transfere todo o processo de pesquisa e desenvolvimento para fora da matriz", afirma Miguel Jorge.

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