São Paulo, terça-feira, 18 de julho de 1995
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Autor sonhava com obra total

JOSÉ GERALDO COUTO
DA REPORTAGEM LOCAL

Assim como Machado de Assis teve sua fase romântica, Balzac teve uma fase ``pré-balzaquiana", em que produziu tragédias teatrais, ensaios filosóficos, romances melodramáticos e histórias pornográficas escritas em ``estilo medieval".
Mas o que conta mesmo, do que escreveu, é a monumental ``Comédia Humana", considerada por Henry James ``um dos fatos mais inescrutáveis, inexplicáveis, definitivos da história da arte".
Iniciada por volta de 1830 e deixada inconclusa pelo autor, a ``Comédia Humana" conta com mais de cem volumes, em sua maioria romances.
Influenciado pelas teorias científicas de sua época -sobretudo pelas descrições que Buffon havia feito das várias espécies animais-, Balzac concebeu um projeto análogo com relação à vida social.
Sua ambição era nada menos que descrever e analisar o funcionamento da sociedade francesa como um todo.
Para isso, fez um plano dividindo sua obra em ``Estudos de Costumes", ``Estudos Filosóficos" e ``Estudos Analíticos".
O primeiro e mais amplo desses blocos subdividia-se em ``Cenas da Vida Privada", ``Cenas da Vida de Província", ``Cenas da Vida Parisiense", ``Cenas da Vida Política", ``Cenas da Vida Militar" e ``Cenas da Vida no Campo".
Um dos pontos mais emocionantes da biografia de Graham Robb é a narração da procura de Balzac por seu caminho intelectual e literário.
Tido alternadamente como burro, louco, feio, grosseiro e perdulário por seus mestres e contemporâneos, o pequeno Balzac (1,55 m) perseguiu sua meta literária com a obstinação que marca seus personagens mais famosos.
Outra passagem curiosa da biografia é a que trata da ``quase" vinda de Balzac em 1840 a Ouro Preto (então Vila Rica). Fascinado pelo livro ``Viagem Pitoresca pelo Brasil", de Rugendas, o escritor sonhava com tesouros escondidos nas Minas Gerais, mas desistiu a tempo.
Em cenas narradas com vigor balzaquiano, Robb mostra seu biografado como uma curiosa mistura de racionalismo científico e misticismo supersticioso, herdados, respectivamente, do pai pragmático e da mãe sonhadora.

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