São Paulo, quarta-feira, 19 de julho de 1995
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Gabriel O Pensador quer ser compreendido

LUIZ ANTÔNIO RYFF
DA REPORTAGEM LOCAL

Depois de alçar o rap dos guetos urbanos vendendo 250 mil cópias de seu primeiro disco, Gabriel O Pensador, 21, lança ``Ainda É Só o Começo" tentando repetir o sucesso da estréia.
Ele garante que não está sofrendo a ``síndrome do segundo disco"-o medo de que o segundo trabalho não tenha tanto sucesso quanto o primeiro. ``Tenho um público fiel", diz.
Certamente um público fiel o bastante para que ele possa cobrar cerca de R$ 15 mil por show.
Quantia dividida com o empresário e a banda, mas sua parte é suficiente para que ele não se enquadre no retrato pintado em ``Pão de Cada Dia": ``Eu ralo feito otário e ganho menos do que valho".

Qualidade
O disco de estréia credenciou o artista a ficar cinco meses em estúdio preparando ``Ainda É Só o Começo" para consolidar sua posição de estrela do rap nacional.
Ele tem uma explicação para o sucesso estrondoso de seu disco de estréia: a qualidade das músicas.
``Músicas como `Tô Feliz, Matei o Presidente' e `Retrato de Um Playboy' eram diferentes e boas. Era impossível não serem tocadas", avalia.
O sucesso o levou para além-mar. No ano passado, uma turnê em Portugal impulsionou as vendagens de seu primeiro disco para 25 mil cópias (disco de ouro).
``Adorei Portugal. Pensei que haveria preconceito, mas o pessoal era fã, conhecia todas as letras", diz ele, que se apresentou sentado em uma cadeira de rodas por causa de um problema no joelho.
As boas vendagens fizeram com que ``Ainda É Só o Começo" seja lançado simultaneamente no Brasil e em Portugal. E, em agosto, Gabriel viaja para lá em uma turnê que se estende até a França.
No novo disco, Gabriel homenageia suas influências reproduzindo melodias e citando frases de músicas de Milton Nascimento, Rita Lee e Legião Urbana entre outros, a maioria brasileiros.
Na autobiográfica ``Como Um Vício", Gabriel faz um elogio ao rap e admite que não sabe cantar.
``Não desenvolvi a técnica do canto. Há algum tempo, na Bahia, tentei cantar `Não Chore Mais' e foi um terror. Desafinei completamente", conta.
Ele acha que amadureceu e que as letras estão menos inocentes. A temática continua politizada. Como em ``Mentiras do Brasil" (veja trecho ao lado), que satiriza alguns ditos populares.
Em algumas músicas ele dá uma no cravo e outra na ferradura. Como em ``Blitz 1 e 2", diálogos entre policiais, em que há críticas e elogios à corporação.
Sua preocupação atual é não ser compreendido errado. É o caso do carro-chefe do novo disco, ``Estudo Errado", que nasceu durante as gravações do álbum e já tem clipe gravado.
``Não aprendi nada de bom, mas tirei 10", diz o refrão da música, que critica o sistema de ensino mas valoriza o estudo.
``Tomei cuidado para não ser contra o estudo. As crianças podiam interpretar mal", explica.
Apesar da postura de menino mau, Gabriel é um ``rapaz de família". Com orgulho, ele conta que o pai e o irmão menor participaram das gravações do disco em alguns diálogos.
Ele não liga quando cai em contradição. Está longe de ser coerente, seu negócio é chocar.
Admite a forte influência norte-americana, mas critica quem veste a camisa dos EUA em ``Filho da Pátria Iludido": ``Você é uma fêmea no cio e o Tio Sam é seu macho. Você é o capacho dos norte-americanos".
``Comecei essa letra no McDo-

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