São Paulo, domingo, 23 de julho de 1995
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mama mia!

MARISA ADÁN GIL

"Seios" em exposição. Cobertos por doces mastigáveis, metais que celebram o sadomasoquismo ou correntes para guardar a castidade, são um convite à fantasia e ao fetiche.
Chega na próxima terça (25) a São Paulo a "Mostra O Sutiã". São mais de 250 peças de vários países, em exposição na Pinacoteca do Estado (av. Tiradentes, 141, tel. 227-6329). O evento é patrocinado pela Duloren, com apoio da Revista da Folha e da Lycra (DuPont).
"O que me encanta nessa exposição é a idéia de levar o objeto ao absurdo, que remete ao dadaísmo", diz Emanoel Araújo, 54, diretor da Pinacoteca.
No Rio, em cinco semanas, a mostra foi vista por mais de 4.000 pessoas. No Museu Nacional de Belas Artes estavam expostas 284 obras: 231 internacionais e 53 brasileiras.
As internacionais foram trazidas pelo curador italiano Samuelle Mazza. Foi ele quem idealizou, em 1990, a mostra "Reggi-Secolo" ("Século do Sutiã"), com estilistas como Ives Saint-Laurent, Vivienne Westwood, Sonia Rykiel e Ocimar Versolato. Montada em Pesaro, Itália, seguiu para Milão, Londres, Madri, Paris e Istambul... Em 95, chegou aqui por intermédio da Duloren.

Sustentando o mundo
Aqui, ganhou novos contornos. Foram encomendadas criações a 12 convidados (entre estilistas, artistas plásticos etc.). Um concurso nacional foi organizado para pinçar mais participantes. Dos 568 inscritos, 40 foram parar na mostra.
O gerente de merchandising da Duloren, Armando Madeira, diz que a criatividade brasileira cativou Samuelle Mazza. Tanto que o italiano escolheu 125 peças (entre premiadas e não-premiadas) para seguir com a exposição pela Europa e os Estados Unidos.
"Os trabalhos eram mais loucos do que eu imaginava", diz o estudante Rodrigo Guimarães, 24, vencedor do concurso. Graças ao "Sutiã Atlas", que ele fez em sete dias, ganhou uma viagem a Paris. "É uma analogia entre sustentar o mundo e sustentar os seios". Para Denise Areal, estilista da Duloren, foi surpresa, além do sucesso da idéia, esse tipo de olhar masculino: "o sutiã como força, no caso do vencedor, ou o seio como fonte de alimentação, caso do segundo colocado".

Pele derretida
Outra surpresa foi a escolha dos materiais. Arames e latas de queijo foram alguns dos usados pelos brasileiros convidados. O estilista Alexandre Herchcowitch fez um top de látex moldado no corpo, "para dar um efeito de pele derretida".
O cartunista Angeli, 39, usou o papel mesmo como suporte e criou um desenho em mosaico, unindo cenas de humor com sutiã - entre elas a de uma modelo magra cobrindo o corpo todo com sutiã e a de homúnculos abrigados da chuva sob um sutiã gigante. "No meu trabalho a lingerie sempre teve muito destaque, mostrando meu lado fetichista. O convite caiu como uma luva de cetim ou uma calcinha de renda."
Menos convidativo ao toque é o trabalho de Zau Olivieri, um dos mais agressivos da mostra. No ramo das bijuterias há 25 anos, optou por um sutiã de arame. "Não era mesmo para vestir. A mostra dá a oportunidade de pensar em arte, não no aspecto comercial da coisa."
Em São Paulo, a "Mostra o Sutiã" ganha mais duas atrações. No dia 24 haverá um desfile inaugural só para convidados. Performances sensuais e striptease devem acompanhar a exibição de lingerie da Duloren.
O público pode conferir, paralelamente à mostra, uma seleção de obras feita por Araújo para representar "o nu artístico na arte brasileira". Entre os artistas, Eugênio Latur (com a trilogia "Mistério") e Victor Brecheret ("La Porteuse de Parfum").
A próxima parada é Belo Horizonte, onde a mostra acontece de 21 de agosto e 3 de setembro, no Palácio das Artes (av. Afonso Pena, 1.537, tel. 031-237-7333). Depois, Bruxelas. Mas a despedida não é definitiva: a partir de setembro, sutiãs selecionados rodam os shoppings do país
.M.Ad.

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