São Paulo, segunda-feira, 24 de julho de 1995
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Tacos são as armas dos ``beiseboys"

RONALDO SOARES
DA REPORTAGEM LOCAL

O retrospecto é positivo: nos últimos cinco anos o Brasil conquistou no beisebol, em categorias diferentes, dois títulos mundiais (em 90 e 93), um Sul-americano e um Pan-americano (ambos no ano passado).
Mas só um equipamento do esporte ganhou popularidade, pelo menos, em São Paulo: o taco.
E, no caso, não há motivos para comemorar: o bastão tem sido cada vez mais usado em brigas de rua, por ``beiseboys", garotos que resolvem suas diferenças no braço. Ou no taco.
Como a procura pelo bastão aumentou nos últimos meses, o estoque em várias lojas de materiais esportivos esgotou. É o caso da Bayard, no shopping Ibirapuera (zona sul), que vende em média 20 tacos por mês.
``Desse total, dez ou 12 são para a prática do esporte", estima Márcia Nogueira, gerente da loja. Os demais, diz, são comprados por jovens de 18 a 20 anos, que ``geralmente usam o taco em brigas de trânsito".
``Quando a pessoa leva o taco e não compra os outros artigos -bola, luva ou uniforme-, os funcionários perguntam se é para jogar beisebol. E eles dizem que não, que é para deixar no carro e usar como objeto de defesa pessoal", diz Nogueira.
M.S., 22, usa a justificativa da ``defesa pessoal" para carregar uma dessas armas sob o banco de seu carro. Segundo ele, o objeto serve para ``dar medo, e não para sair batendo nos outros".
``Não precisa ser de beisebol. Pode ser porrete, tranca de carro, chave-de-roda, qualquer coisa que sirva para intimidar seus oponentes."
Para ele, o taco é uma ``arma, mas de efeito moral". ``É como se a pessoa dissesse: `É melhor você não mexer comigo, senão vai se dar mal'."
M. diz que usou o taco pela primeira vez em uma briga de trânsito. ``Um cara bateu no meu carro, eu reclamei e a gente se atracou na porrada. Dois amigos dele vieram, aí eu tive que dar com o taco de beisebol no joelho de um para eles se acalmarem."
Ele garante, no entanto, que antes de partir para a agressão tenta ``resolver tudo na conversa". Lutador de jiu-jitsu, 1,84 m de altura, o corpulento M. sabe o estrago que pode causar se colocar sua força em um taco de beisebol para dar uma pancada em alguém. Uma pancada pode até matar (veja quadro).
``Bater com o taco na cabeça da pessoa pode matar ou deixar o cara abobado para o resto da vida. Tem alguns pontos certos para bater, como joelhos, costelas, braços. As juntas em geral", diz.

LEIA MAIS
Sobre os ``beiseboys" à pág. 6-3.

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