São Paulo, quinta-feira, 27 de julho de 1995
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D. Paulo quer um sucessor 'progressista'

CARLOS MAGNO DE NARDI
DA REPORTAGEM LOCAL

O cardeal d. Paulo Evaristo Arns deixará a função de arcebispo de São Paulo em 1996, mas pretende agir nos bastidores da igreja para manter um ``progressista" no comando da principal arquidiocese do país.
D. Paulo completa 75 anos de idade no dia 14 de setembro de 96. Pelas leis da Igreja Católica, o bispo que atinge essa idade ``é solicitado a apresentar sua renúncia".
Nos bastidores da igreja, a aceitação do pedido pelo papa é dada como certa devido à identificação de d. Paulo com a chamada ala ``progressista" do clero.
No Rio, por exemplo, o cardeal-arcebispo d. Eugênio Salles deve ser mantido no posto pelo papa, embora complete 75 anos no final deste ano.
Salles é um dos principais nomes da ala ``conservadora". Além disso, os 170 novos bispos indicados para o Brasil nos últimos dez anos são ``conservadores".
``Candidatos"
A Folha apurou que os candidatos preferidos dos ``progressistas" na sucessão de Arns são o ex-presidente da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) d. Luciano Mendes de Almeida e o secretário da Congregação para o Culto e Sacramento no Vaticano, d. Geraldo Magela.
A indicação de d. Luciano conta com a simpatia do próprio Arns, para quem o ex-presidente da CNBB é um dos bispos de maior experiência no país.
O presidente da Cehila (Conferência de Estudos de História da Igreja na América Latina), José Oscar Beozzo, diz que, ``se houver bom senso, d. Luciano deve ser o escolhido".
Entre os conservadores, o nome preferido é o de d. Fernando Figueiredo, bispo de Santo Amaro.
Poucos padres e bispos concordam em comentar o assunto, já que o processo de renovação corre em sigilo.
Os chamados ``conservadores" são mais reservados.
O bispo diocesano de Santo André (ABCD paulista), d. Cláudio Hummes, por exemplo, não quis comentar a possibilidade de fortalecimento dos ``progressistas" na sucessão de d. Paulo, com a nomeação de d. Aloisio Lorscheider para a arquidiocese de Aparecida (170 km a Noroeste de São Paulo).
Já o teólogo dominicano ``progressista" Carlos Alberto Libânio Christo, o frei Betto -um dos defensores no Brasil da chamada ``Teologia da Libertação"- é enfático: ``A tendência do Vaticano tem sido nomear conservadores sem experiências pastorais", diz.
Outros "progressistas", como d. Angélico Sândalo Bernardino, afirmam que ainda é muito cedo para avaliar a sucessão.
D. Paulo não fala sobre o assunto. O vigário coadjutor de comunicação (assessor de imprensa) da arquidiocese, padre Fernando Altemeyer, porém, diz que o cardeal entende ter cumprido sua missão ao ``manter o compromisso da igreja com a história do país".

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