São Paulo, sábado, 29 de julho de 1995
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Dilemas da Igreja Católica

Em quase 2.000 anos de vida, a Igreja Católica viveu conflitos aparentemente capazes de abalar sua suposta independência em relação ao poder temporal.
A cessão de indulgências em troca de riquezas, a conquista de um grande patrimônio na Idade Média, as alianças com a nobreza, reis ou déspotas denunciavam uma cíclica atração da cristandade pelo poder.
O século 20 registrou um enfraquecimento da instituição, sobretudo por sua dificuldade de se adaptar às novas demandas dos fiéis. Por isso realizou-se entre 1962 e 1965 o Concílio Vaticano 2º, para, entre outros fins, tentar modernizar a Igreja Católica.
Desde então a instituição viveu um processo de politização que, no momento mais radical, produziu, sem o aval do Vaticano, a ``Teologia da Libertação", recomendando aos religiosos célebre ``opção preferencial pelos pobres".
Inicia-se então a querela entre ``tradicionais" e ``progressistas", uns defendendo a ortodoxia doutrinária e a teórica distância das questões temporais, outros valorizando a inserção social e política da igreja.
Nessa disputa, encíclicas papais são interpretadas a favor de uma ou de outra tendência.
Duas conferências religiosas ocorridas nesta semana em São Paulo refletem com clareza a ambivalência que persegue a instituição. Críticas feitas pelo papa em discurso às congregações brasileiras apontam agora para o perigo de se criar uma ``igreja paralela", devido à ênfase dada pelos padres brasileiros ao trabalho social, numa perspectiva considerada ``socializante" pelo Vaticano. Porém os presentes reafirmaram a necessidade de, frente à ``crise da fé" apontada pelo papa, serem ``cada vez mais `criativamente fiéis' (...) no contraditório quadro da modernização excludente vivida pelo nosso país".
Tais dilemas põem em xeque o projeto de uma instituição que, como indica a etimologia do termo ``catolicismo", sempre se apresentou como portadora de uma universalidade moral cuja aplicação às condições específicas de cada povo está se mostrando agora cada vez mais problemática.

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