São Paulo, domingo, 30 de julho de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

País depende do Plano Real, diz consultor

DENISE CHRISPIM MARIN
DE BUENOS AIRES

O consultor argentino Miguel Broda afirma que a Argentina tornou-se dependente das decisões da equipe econômica brasileira, com o Mercosul.
Também pondera que o modelo econômico adotado pelo Brasil é lento e dá margens à atuação de lobbies empresariais.
Desta forma, o Brasil poderia impor riscos ao plano econômico argentino, que ele vê como modelo de sucesso.
``Continuo pensando que a política econômica do Brasil é muito sujeita aos interesses da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo)", afirmou.
``Tudo pode ser privatizado. Menos a política econômica", completou, referindo-se a mudanças no programa brasileiro que teriam sido provocadas por pressões de setores produtivos, como as cotas de importação para carros.
Broda é sócio e diretor do Estudio Miguel A. Broda e Associados, que dá consultoria econômica a empresas argentinas.
Em entrevista à Folha, Broda comentou que a economia brasileira continua protegendo os produtos nacionais, com uma política comercial discriminatória aos importados.
O comércio exterior brasileiro, em sua opinião, estaria sujeito aos ``interesses protecionistas representados pelos ministros José Serra (Planejamento) e Dorothea Werneck (Indústria, Comércio e Turismo).
Segundo seus dados, 50% dos produtos exportados pela Argentina têm como destino o Brasil.
Desta forma, o resultado positivo da balança comercial (exportações menos importações) argentina neste semestre teria sido, em parte, consequência do aumento do consumo após o Plano Real.
A dependência da Argentina ao Brasil não estaria restrita aos interesses comerciais. Segundo Broda, seu país está usando o Brasil como ponte para receber investimentos.
O sucesso do Plano Real, portanto, seria essencial para que os investidores estrangeiros não desviassem o rumo planejado para a Argentina.
``A economia argentina é vulnerável e frágil. Qualquer interrupção do Plano Real resultará em bloqueio da entrada de investimentos na Argentina", afirmou.
Broda também comentou que não acredita na concorrência entre os dois países pelo ingresso de capital estrangeiro. O Brasil, segundo ele, tem uma potencialidade bem maior que seu país.

Texto Anterior: Diretor nega acordo com os petroleiros
Próximo Texto: Ministro descarta queda da produção
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.