São Paulo, domingo, 30 de julho de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ABCD tem nova variedade de crack

ANDRÉ KOVALEVSKI e ALESSANDRA MARTINS

ANDRÉ KOVALEVSKI; ALESSANDRA MARTINS
DA FOLHA ABCD

Uma nova variedade de crack, droga feita a partir da cocaína e mais potente que ela, surge na região do ABCD (Grande São Paulo). É a ``mela", espécie de crack ``caipira" e de poder alucinógeno maior que o do crack comum.
A mela é feita a partir da mistura da sobra do refino da cocaína com querosene e gasolina. O crack comum é feito por meio da mistura de bicarbonato e pasta de coca. As duas drogas são fumadas.
Segundo Alexandre Sayão, 40, delegado titular da Delegacia de Repressão ao Crack de São Paulo -criada no último dia 19 para combater a droga-, a nova variedade nasceu nas favelas da região.
``Como o crack é uma droga caseira -você pode fazê-la no microondas-, em cada região surge uma nova variedade. É como um bolo em que você põe mais ou menos fermento", diz Sayão. Hoje no país existem entre 120 mil e 150 mil viciados em crack.
Para A.M.C., 15, de Santo André, que começou a usar o crack há três meses, a nova variedade é melhor que o crack comum por ser mais forte e ter efeito mais longo. ``A paranóia dura 10, 15 minutos." Ele disse ter vendido sua moto para comprar crack.
Segundo D.O., 12, também do ABCD,``essa droga não leva a nada". ``Comecei aos 11, hoje fumo quase todo dia", disse.
``Essa moda do crack começou desde o início do ano. A gente dá umas duas puxadas. Mas na primeira já vem a loucura", disse L.S., 26, de Santo André. Ele deu entrevista à Folha enquanto fumava crack, na última quarta.
``Dura uns cinco minutos de paranóia. Às vezes dura até 10 minutos. O efeito surge na hora em que a gente puxa a fumaça. Puxou, já era", afirmou R.J.M., 23, amigo de L.S. Durante o depoimento, ele tremia e mal conseguia segurar o cachimbo improvisado de plástico.
A.M.C. afirma que o primeiro efeito do crack é ``um otimismo exagerado". ``É uma fissura, uma alegria, vontade de abraçar todo mundo. Uns minutos depois, começo a ficar na minha."
A tremedeira e dificuldade de articular as idéias são outras sensações provocadas pela droga. ``Você está vendo a tremedeira que dá. Não dá pra falar direito. Quando passa o barato, consigo parar um pouco de tremer", disse R.J.M.
Segundo a pesquisadora Solange Nappo, 44, do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas, o crack leva de 5 a 8 segundos para alcançar o cérebro e pode provocar ataques cardíacos, derrame e problemas respiratórios.

Texto Anterior: 'Errávamos hora e local do encontro'
Próximo Texto: Estado responsabiliza Portugal
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.