São Paulo, domingo, 30 de julho de 1995
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Anúncios enganosos reproduzem 'pirâmide'

DA REPORTAGEM LOCAL

Anúncios enganosos que prometem ganhos médios de R$ 700 mensais envelopando circulares estão sendo publicados em classificados de jornais de São Paulo.
O texto do anúncio fornece uma caixa postal para que o interessado solicite mais informações.
O solicitante recebe, então, uma carta que diz tratar-se de ``uma empresa pioneira e líder do mercado no segmento de Serviços de Preparo e Remessa Postal".
A carta solicita ainda taxa de R$ 10 por vale-postal, para o interessado receber em casa ``o mais incrível método de trabalho".
Então, ele recebe de volta orientações para fazer o mesmo: anunciar em jornal, conseguir uma caixa postal e oferecer trabalho de envelopamento de circulares.
Segundo o delegado Guilherme Santana, 56, diretor da Divisão de Economia Popular do Decon (Departamento Estadual de Polícia do Consumidor), quem faz esse tipo de anúncio está cometendo crime contra a economia popular, previsto no Código de Defesa do Consumidor (artigos 66 e 67).
A pena prevê detenção de três meses a um ano e multa que varia de acordo com a sentença.
O delegado vê na atitude a famosa ``pirâmide" ou ``corrente", disfarçada como um ``bico".
A ``pirâmide" e ``corrente" são uma espécie de consórcio financeiro a que as pessoas aderem mediante o pagamento de certa quantia para, depois de algum tempo, receberem mais do que investiram.
Santana diz já ter recebido uma reclamação, mas não conseguiu descobrir a origem do anúncio publicado há cerca de dois meses no jornal ``Metrô News".
Para ele, a publicação que veicula esse anúncio não tem responsabilidade, desde que não saiba tratar-se de um fato criminoso.
``Um anunciante desses deveria ser preso", diz Humberto Altran, 29, microempresário que respondeu ao anúncio e enviou os R$ 10.
Ele leu o anúncio nos classificados de Empregos da Folha de 4 de junho. Desde a semana passada, a diretoria de Publicidade/Classificados da Folha decidiu bloquear esse tipo de publicidade.
A autora do anúncio a que Altran se refere, Ana Maria Jeroshenko, procurada pela Folha entre os dias 21 (sexta-feira) e 26 (quarta) no telefone que forneceu ao anunciar, não foi encontrada.
Segundo uma funcionária que se identificou como Júlia, Ana estaria de férias da empresa, que comercializaria pneus na avenida Morumbi (zona sul de São Paulo).
Júlia se comprometeu a entrar em contato com Ana Maria na tarde da última quarta-feira, mas a anunciante não retornou.
Outro anunciante também acusado de fazer ``pirâmide", José Eduardo Ramos de Andrade, 25, que trabalha como analista de sistemas, negou a acusação. ``Não é pirâmide, é mala-direta."
Embora tenha solicitado a publicação de um anúncio sob o título ``Aumente sua renda", Andrade diz que está montando uma microempresa de venda de produtos diversificados.
Outra pessoa enganada pelo anúncio foi o estudante Alexandre Wolinski, 16. Até agora ele não recebeu o retorno dos R$ 10 que enviou para a caixa postal.
``Já faz mais de um mês que enviei o pedido e ainda não veio resposta", diz. ``Procurei saber o nome da pessoa nos Correios, mas fui informado de que a caixa postal é sigilosa."

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