São Paulo, domingo, 30 de julho de 1995 |
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Coração versus espaço
PAULO FERNANDO SILVESTRE JR.
Mais especificamente, a pesquisa da gaúcha Thaís Russomano, 31, tenta avaliar como o sistema cardiovascular se comporta em ambientes de microgravidade (onde a força de atração gravitacional é mínima, como no espaço) e durante a reentrada na atmosfera terrestre. A diferença entre o ambiente terrestre e o espacial -e principalmente a transição brusca entre eles, como acontece na reentrada no ambiente do planeta- altera o funcionamento de diversos sistemas e órgãos do corpo. Isso pode levar a vários desconfortos, como desmaios e letargia (leia texto abaixo). O estudo -que está sendo realizado no King's College, em Londres (Reino Unido)- faz parte da tese de doutorado de Russomano, professora da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, e tenta descobrir se seis horas são suficientes para desregular o coração exposto à microgravidade. Os resultados serão utilizados para estudar o papel do pulmão no descondicionamento cardiovascular do astronauta. Simulação Simular a microgravidade não significa que o voluntário fica livre da influência gravitacional. Na verdade, ele é submetido a situações que fazem partes de seu organismo se comportar como se estivessem no espaço. Para isso, Russomano e seu colega na pesquisa, Simon Evetts, um oficial do Exército britânico, utilizam um dispositivo chamado "tilt table", uma mesa que permite posicionar seu tampo em diversos ângulos. Nela, o voluntário é deitado por vinte minutos em um ângulo de seis graus negativos, o que põe sua cabeça ligeiramente mais baixa que seus pés. "Isso faz com que o sangue dos membros inferiores se desloque para a parte superior do corpo", disse Russomano à Folha. O sangue passa se concentrar na cabeça e na parte superior do tórax, exatamente como acontece no espaço devido à microgravidade. O voluntário permanece imóvel nesse período, para que seu sistema cardiovascular se estabilize na nova condição. Ele é colocado, então, em um ângulo de 70 graus positivos (quase na vertical), quando são avaliadas a sua respiração, a pressão arterial e a frequência cardíaca, além de ser submetido a um eletrocardiograma. O ciclo é repetido, mas, desta vez, o período "deitado" passa a ser de seis horas, tentando, com isso, estressar o coração como o ocorrido na reentrada atmosférica. A diferença entre as duas medições é usada para estudar o que acontece no coração com uma exposição à microgravidade. Um detalhe: no Reino Unido, o sistema ético das instituições de pesquisa impede que voluntários sejam pagos pelo serviço prestado, pois isso poderia influenciar suas respostas. Texto Anterior: FAIXA SURDA; SEXO SEGURO; OLHO DE CORAL Próximo Texto: ESPAÇO TERRESTRE Índice |
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