São Paulo, domingo, 30 de julho de 1995
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Buenos Aires ainda faz festa por Evita

Mito do peronismo sobrevive 43 anos após a morte dela

DENISE CHRISPIM MARIN
DE BUENOS AIRES

O mito de Evita Perón sobrevive com força na Argentina, passados 43 anos de sua morte. Sua imagem continua disputada por políticos e sindicalistas vinculados ao peronismo.
Na última quarta-feira, 26, dia de sua morte, os peronistas fizeram comícios para lembrá-la, prestaram homenagens, encomendaram missas, inauguraram placas.
Cartazes com o rosto de Evita estavam por todos os cantos de Buenos Aires. Nas bancas de jornais, o vespertino ``Crónica" trazia fascículos com sua história.
O mito de Evita nasceu nos anos 40, com a defesa apaixonada de seu marido, Juan Domingo Perón, e com a adesão a seu discurso político.
Perón havia promovido uma ampla reforma trabalhista naquela época. Tornou-se amado e respeitado por operários e pelos que saíam do campo para as cidades, os ``descamisados".
Tornou-se presidente da República em 46. Três anos depois, se converteu em ditador. Interveio em universidades, censurou os meios de comunicação e alterou a Constituição. Em 51, foi reeleito.
Era um político habilidoso para mobilizar as multidões com discursos inflamados e com programas sociais batizados de ``justicialistas". Além disso, mantinha forte controle sobre os sindicatos.
A atriz de má reputação Eva Maria Duarte foi envolvida por este ambiente, mesmo antes de se casar com Perón, em 45.
Em 70, quando entrevistou Perón, em Madri, o escritor Tomás Eloy Martínez lhe perguntou qual a figura que prevaleceria na história -Eva ou ele.
Perón respondeu: ``Eva Perón é um produto meu. Eu a fiz".
Martínez não acredita nesta versão. ``O mito de Evita se construiu por si mesmo. Mas claro que não teria sido possível sem Perón", afirma o escritor.
``Também sem Evita, o peronismo não teria sido o mesmo. Esses mitos se complementam."
Martínez explica em seu livro ``Santa Evita", que o mito nasceu por vários fatores.
Ela subiu como foguete ao poder. Morreu jovem (aos 33 anos), no auge da popularidade. Foi uma espécie de Robin Hood dos anos 40 e Perón a amava muito.
Com o passar do tempo, foi se convertendo em figura santa no imaginário do povo. As pessoas queriam tocá-la, viam auréolas sobre sua cabeça.

Menem
Peronista histórico e líder máximo do Partido Justicialista, o presidente da República, Carlos Menem, hoje está distante da política imaginada por Perón.
Menem adotou, em 91, um modelo econômico liberal que derrubou a hiperinflação, mas que resultou na atual taxa de desemprego de 18,6%.
Nos meios políticos, uma das reivindicações é de que governo ``peronize a economia".
Isso significa flexibilizar as rígidas regras econômicas e dar prioridade às ações sociais. Menem, entretanto, resiste.
Nos meios políticos argentinos, os políticos liderados por Menem são chamados de "Neoperonistas".

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