São Paulo, domingo, 30 de julho de 1995
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Processo e carma

Desejo e destino têm sido entrelaçados caprichosamente na história política brasileira recente. Desde Tancredo Neves, a liderança máxima da nação encarna e desencarna em personalidades às vezes aterrorizadoramente imprevisíveis.
Os cidadãos desejaram a democratização total. O destino afinal confirmou essa aspiração, mas por caminhos tortuosos. Hoje o anseio maior é por uma estabilidade da moeda, que demanda profundas mudanças institucionais e econômicas. Quão tortuoso será o caminho rumo à estabilidade desejada?
A agenda política do segundo semestre prenuncia dificuldades crescentes. No terreno das providências emergenciais estão a negociação da MP da desindexação e a discussão sobre como ressuscitarão o IPMF e o Fundo Social de Emergência.
Complicando o quadro, há uma extensa pauta de votações no Senado que provavelmente confirmarão os avanços obtidos na Câmara. Mas isso não é uma certeza.
As maiores polêmicas, entretanto, referem-se ao rol de novos temas que o governo pretende introduzir a partir de agosto: as reformas tributária e administrativa prometem dissensões de monta.
Dos ajustes no plano de estabilização às reformas constitucionais, passando pela mecânica em si mesma delicada das negociações em cada etapa, em cada Casa, o segundo semestre aparece como uma corrida de obstáculos que exigirá do presidente uma enorme capacidade de articulação de interesses e coordenação de grupos.
O fato é que até hoje, após cada plano de estabilização, as expectativas da nação viram-se frustradas exatamente porque os líderes máximos, por motivos extremamente variados, não se revelaram à altura do desafio histórico.
Nessa perspectiva, a agenda política e, portanto, o destino das negociações parecem condicionados por uma questão central, que já é discutida abertamente: a possibilidade de reeleição do presidente FHC.
A disposição dos vários setores e partidos de aceitarem mudanças estará, não há dúvida, condicionada pela hipótese de reeleição.
O presidente FHC fala sempre em processo. No caso, o sucesso da estabilização e do processo político parece mais uma vez depender, e muito, do carma presidencial.

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