São Paulo, domingo, 30 de julho de 1995
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Enxugar e matar

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO - Que o Banco do Brasil precisa reduzir o número de funcionários, parece óbvio. Afinal, todo o setor financeiro vem sofrendo uma dieta rigorosa pelo menos desde o início da década.
Os bancários eram 825.558 em 1990 e, ao terminar 1994, estavam reduzidos a 637.427. Foi extinto, portanto, quase um de cada quatro postos de trabalho existentes há apenas cinco anos.
Se isso resultou em melhores serviços aos usuários, é matéria opinável. Do meu ponto de vista, o sistema bancário brasileiro é quase o paraíso quando se trata de operações eletrônicas e/ou telefônicas. Mas, quando se é obrigado a ir uma agência bancária, a coisa se complica e muito.
Voltando ao BB: não parece haver lógica em se imaginar que o banco poderia ser poupado do enxugamento ocorrido com seus concorrentes.
A questão não é exatamente essa, mas a maneira como a direção do banco está procedendo com seus funcionários e não apenas agora, com o plano de demissões voluntárias.
A tensão funcional no BB já vem desde o ano passado e criou uma situação de extrema anormalidade. Os bancários contabilizam 14 suicídios só em 1994 e mais alguns este ano.
Há casos de extrema dramaticidade. Um funcionário deu um tiro na cabeça no horário do expediente em uma movimentada agência central de uma capital nordestina.
Outra, embebeu com gasolina um cobertor, enrolou-se nele e ateou fogo.
Parece pouco crível que ``marajás", rótulo que se tenta indiscriminadamente colar nos funcionários do BB, descubram, de súbito, uma vocação para bonzo.
O mais provável é que a política de recursos humanos do banco esteja falhando gravemente. Ainda mais que, ao divulgar os resultados negativos do semestre, a direção do BB aponta o dedo acusador para administrações anteriores e não para os funcionários, o que, de resto, é óbvio.
Enxugar os quadros é sempre doloroso, mas às vezes necessário. Levar parte deles ao suicídio, além de doloroso, é imperdoável.

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