São Paulo, segunda-feira, 31 de julho de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Crise derruba preço da terra no interior

BRUNO BLECHER
EDITOR DO AGROFOLHA

O efeito-dominó da crise agrícola está derrubando os preços da terra no interior paulista.
Nas regiões de São José do Rio Preto e Ribeirão Preto o mercado está paralisado e os preços caíram 50% em 12 meses.
Na opinião de corretores consultados pela Folha, os preços estão voltando à realidade, após a euforia dos primeiros meses do real.
``Aqui o alqueire (24.200 m2), que sempre valeu o equivalente a 1.200 t de cana (R$ 13.800), chegou ao absurdo de custar 2.500 t logo após a implantação do Plano Real", disse o corretor Atílio Benedini, de Ribeirão Preto.
A situação é mais grave nas áreas de produção de grãos (milho, soja e trigo), como Assis (460 km a oeste de São Paulo).
``Hoje quem tem dinheiro compra tudo no interior. Carro, casa, trator, sítio e bicicleta", disse Aguinaldo Consone, presidente do Sindicato Rural de Cândido Mota.
``O hectare (10 mil m2) no vale do Paranapanema, que valia o equivalente a 800 sacas de soja (R$ 7.680), hoje não ultrapassa 200 sacas (R$ 1.920). E não há comprador", acrescenta Orson Mureb Jacob, 50, presidente do sindicato rural de Assis.
Na região de São José do Rio Preto, 451 km a noroeste de São Paulo, o hectare que valia R$ 4.000 em julho de 94 caiu para R$ 2.000 este mês, segundo o corretor Carlito Fernandes da Silva, 38.
Quem vendeu na época das vacas gordas fez bom negócio. O agricultor Leonildo Barufi, de Bady Bassit, conseguiu, em dezembro, R$ 100 mil por 24,5 hectares. Hoje o valor de mercado é de aproximadamente R$ 65 mil.
Em Araçatuba (532 km a noroeste de São Paulo), o hectare de terra chegou, em 94, ``à loucura de R$ 5.400", segundo corretores. Hoje está em cerca de R$ 1.600.
A falta de financiamento ressuscitou o escambo na região de Piracicaba (170 km a noroeste de São Paulo, produtora de cana) e em Limeira, terra da laranja.
``Há um mês fechei a venda de uma fazenda de R$ 550 mil, paga com imóveis e carros", diz o corretor Oswaldo Bortoleto, 45.
Nos casos em que a permuta não é aceita pelo proprietário, a desvalorização chega a 40%. O alqueire em Piracicaba está avaliado entre R$ 10 mil e R$ 15 mil.
Além do endividamento no campo, a forte queda dos preços agrícolas nos últimos doze meses (veja quadro) contribuiu para a retração do mercado de terras.

Colaboraram as Regionais.

Texto Anterior: Crise pode tirar 200 mil famílias do campo
Próximo Texto: Nova greve deve barrar distribuição
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.