São Paulo, segunda-feira, 31 de julho de 1995 |
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Juros no Brasil são os maiores do mundo
RODNEY VERGILI
O levantamento levou em consideração a taxa real de juros de um dia para outro (overnight), que dá o piso de captação de dinheiro pelo sistema financeiro e que alcançou 28% ao ano na média dos cinco primeiros meses de 1995. A pesquisa concluiu que com essa taxa o Brasil conseguiu a ``primeira colocação no ranking mundial da usura". Esse percentual espelha quadro de dificuldades que ``não é novo e responde, em grande medida, pela insuficiência de investimento no Brasil", afirmam os pesquisadores. Ricardo Fleury Lacerda, especialista em mercado financeiro da Universidade de Columbia (Nova York), diz que as taxas de juros altas no Brasil têm como objetivos: reduzir o consumo, aumentar a poupança, evitar aumentos nos preços e atrair dinheiro do exterior para cobrir o saldo negativo de dólares na balança comercial (ou seja, as importações estão maiores do que as exportações). A crise do México -que ficou sem condições de pagar suas dívidas com o exterior- em dezembro passado atingiu o Brasil em um momento de auge no aumento das importações (compras no exterior) e da ``noite para o dia o capital especulativo começou a fugir do país", fazendo com que o Banco Central brasileiro tivesse que elevar os juros. Os efeitos de contenção do consumo que os juros altos poderiam causar já ocorreram. ``Aumentos contínuos nos juros ou manutenção nos atuais níveis daqui para frente só podem causar desastre na economia, com repetidas ondas de quebradeira", diz Lacerda. As retiradas de dinheiro do país concentraram-se no primeiro trimestre deste ano. As saídas de dólares das Bolsas superaram as entradas em US$ 1,58 bilhão (175,5 mil carros Fusca zero) ao final do primeiro semestre de 95, diz Ulysses Ferreira, diretor do Banco Patente. Os investidores estrangeiros estão interessados em comprar os papéis de empresas e bancos brasileiros emitidos no exterior, por causa da credibilidade das instituições e também dos altos juros. Bancos ganham Alberto Borges Matias, diretor da Austin Asis Consultoria, diz que os balanços dos bancos mostram lucros crescentes no Plano Real por causa dos altos juros praticados no Brasil. A rentabilidade dos bancos não cai com o declínio da inflação, mas declinará se houver baixa nas taxas de juros, diz. Segundo Matias, os altos juros somente produzem desaceleração no consumo se forem utilizados em período curto de tempo. Em períodos longos, os elevados juros passam a ser incorporados aos preços dos produtos (causando inflação) e levam consumidores e empresas endividadas a atrasar pagamentos. John Welch, economista-chefe para a América Latina da corretora Lehman Brothers em Nova York, afirma que ``os juros no Brasil não precisariam estar tão altos para conter a explosão de consumo decorrente do Plano Real". O consumo no Brasil não chega a ser extraordinário se comparado com o de outros países emergentes, como o México, ou mesmo com o decorrente do Plano Cruzado em 1986. Para Welch, ``a política de juros altos do governo brasileiro faz parte de uma estratégia para desvalorizar o real de forma gradual, sem causar pressões inflacionárias ou fuga de capitais". Ele disse que ``enquanto não forem aprovadas mudanças fiscais (para equilibrar as contas públicas), o Brasil continuará com juros bastante altos para os padrões internacionais". O presidente do Banco Pontual, José Baia Sobrinho, não acredita também em quedas significativas nas taxas de juros do Brasil, enquanto não estiver assegurado o equilíbrio orçamentário (ter receita para pagar despesas) das contas públicas. Texto Anterior: Fatia da Internet vai se abrir para o Brasil Próximo Texto: Brigando pela sede do consumidor Índice |
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