São Paulo, segunda-feira, 31 de julho de 1995
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Ajuste delicado

A queda de 4,5% na produção e de 5,4% nas vendas da indústria paulista em junho, segundo a Fiesp, indica que o desaquecimento da economia está de fato instalado. São sinais que se somam a 11 semanas seguidas de demissões líquidas na indústria paulista. Os dados da Fiesp mostram ainda que desde março o Indicador do Nível de Atividade caiu 8,2% e as vendas industriais reduziram-se em 14,5%.
O desempenho da economia em junho é positivo se comparado ao primeiro semestre do ano passado. Mas tal fato deve-se mais ao deprimido nível de atividade que precedeu o real do que à situação presente. Até junho de 94, a incerteza e a desorganização geradas pela inflação descontrolada mantinham os investimentos e a produção em ritmos anormalmente baixos.
Enquanto Europa e Estados Unidos mantêm níveis de investimento na casa de 20% do PIB, o Brasil entrava na estabilização com apenas 16% da renda nacional destinada à formação de capital. A introdução da nova moeda e o relativo controle da inflação apenas começaram a resgatar, portanto, os padrões normais de operação da economia.
Se nos momentos de pico dessa recuperação alguns setores alcançaram seu ponto máximo de produção, isso já não ocorre hoje. Diferentemente, parece maior o risco de que o governo esteja excedendo-se na dose de contenção da economia do que o contrário.
Até um dado limite, a redução do crescimento de fato ajuda a segurar os preços. Mas não se deve minimizar o fato de que o bem-estar dos brasileiros, quando não a sobrevivência mesmo, no caso de largas parcelas da população, depende de um bom desempenho da economia. O otimismo gerado pelo Plano Real e a eleição do presidente Fernando Henrique Cardoso deveram-se não apenas à queda da inflação, mas também à recuperação do nível de emprego e renda.
Os dados negativos de junho são tão reais quanto os índices positivos do início do ano. O plano demanda hoje uma sintonia fina da política econômica, uma sensibilidade aguçada de seus gestores.

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