São Paulo, segunda-feira, 31 de julho de 1995
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Fantasmas no BC

VALDO CRUZ

BRASÍLIA - Uma fila invisível começa a se formar na sala de espera da presidência do Banco Central. São governadores aguardando a solução que o dono do gabinete, Gustavo Loyola, dará ao caso Banespa.
Se o colega Mário Covas sair da negociação esbanjando um estranho bom humor, com os bolsos abarrotados de dinheiro para salvar o combalido Banespa, eles prometem invadir a sala em busca de sua fatia no bolo.
Loyola não os vê fisicamente, mas sabe que pelo menos três estão ali como se fossem fantasmas: o carioca Marcello Alencar, o mineiro Eduardo Azeredo e o cearense Tasso Jereissati.
O trio já fez chegar aos ouvidos de Fernando Henrique Cardoso que não aceitará passivamente um tratamento especial ao tucano paulista. Loyola está assustado porque sabe que a fila vai aumentar.
Nas conversas com Brasília, os tucanos mineiros e cearenses deixaram claro que o socorro ao Banespa será encarado como um estímulo à incompetência administrativa.
Diante da quase certa ajuda aos paulistas, Minas e Ceará se dizem no direito de receber um prêmio pelo programa de austeridade adotado em seus bancos. Algo que parece justo, não estivesse em jogo o dinheiro do contribuinte.
Sob intervenção desde o final do ano passado, o Banespa virou um pesadelo para o governo FHC. Todas as saídas imaginadas para o banco vão provocar uma sangria nos cofres do Tesouro Nacional.
Pelos cálculos do próprio BC, o governo federal terá de injetar nada menos do que R$ 6,5 bilhões no banco paulista para salvá-lo de uma quebradeira. Mais do que o ministro Adib Jatene busca para cuidar da saúde dos brasileiros.
E se for obrigado a abrir o seu caixa para outros Estados o tão almejado equilíbrio das contas públicas pode ir para o espaço. Uma novela que vinha se repetindo nos últimos governos e à qual FHC havia prometido dar ponto final.
Como a equipe econômica condiciona a queda dos juros altos ao fim dos déficits do Tesouro, pode-se perceber que o que está em jogo não é só a saúde dos bancos estaduais. Mas também a de empresários e trabalhadores.

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