São Paulo, quinta-feira, 3 de agosto de 1995
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Ouvindo o outro lado do caso Danrlei

MATINAS SUZUKI JR.
EDITOR-EXECUTIVO

Meus amigos, meus inimigos, um leitor atento desta seção mais ``boletrista" do que beletrista, torcedor do Grêmio, pede clemência para Danrlei. É um garoto, afirma, que errou e deve ser punido.
Mas, lembra o gremista, há pouco, na seleção, Danrlei foi cobrado justamente por ser acanhado e ter se vergado frente às responsabilidades para as quais, aparentemente, ainda não estava maduro.
Pondera ainda o amigo que:
A) O palmeirense Válber não é nenhum santo dentro de campo (na terça, dia do telefonema, ele quase brigava com o preparador físico do Palmeiras);
B) Que o Edmundo fez igual, senão pior, naquele jogo contra o São Paulo.
C) Que o Zé Elias pisou no Rivaldo sem bola, atitude condenável;
D) Que os jogadores do Corinthians correram para agredir um torcedor e que o Viola mostrou desequilíbrio psicológico, na frente de todos e das TVs.
Pede o leitor gremista desta coluna que eu reconsidere a minha decisão e atenue a minha desconvocação do Danrlei.
Em primeiro lugar, estou colocando aqui as ponderações do leitor para manter o direito ao outro lado e ao equilíbrio de opiniões nesta coluna (que não é de time algum, diga-se de passagem).
Em segundo, o leitor tem razão em quase tudo: com relação ao Válber, ao Edmundo, ao Zé Elias e ao fato de jogadores terem tentado agredir um torcedor (que provavelmente não estava rezando, mas isso não justifica a represália).
Esses fatos refletem a falta de preparo dos jogadores, mas também dos dirigentes e técnicos, que devem controlar todas as atitudes de seus jogadores.
Multas e suspensões mais rigorosas dentro dos próprios clubes já contribuiriam muito para formar um comportamento mais profissional entre os atletas.
Apesar das desculpas ao Válber, o Danrlei reitera o seu mau comportamento: quer se transformar em vítima, dizendo que foi perseguido pela imprensa paulista (o que, em parte, pode até ser verdade, mas não o indulta do erro cometido).
Além disso, o bom goleiro gaúcho ofende a evidência ao dizer que o que ocorreu é normal no futebol, que foi agredido pelo médico do Palmeiras e que reagiu a agressões verbais do Válber.
Assim como é cruel com o erro dos juízes, a televisão é cruel com a má conduta dos jogadores: está lá, para quem quiser ver, que o médico tentava separar a briga entre o Dinho e o Válber e que o Danrlei agrediu o Válber enquanto este brigava -e portanto, não poderia estar xingando o goleiro do Grêmio.
Nunca participei de campanha para dizer que o time do Grêmio era violento. Pelo contrário, desde a temporada passada, quando este time ainda se desenhava, fiz elogios a sua formatação tática.
Sublinhei também o espírito de solidariedade, no qual via até um paralelismo com o comportamento político-social do gaúcho, único na vida brasileira.
Mas continuo avaliando a sua falta como gravíssima, saindo da esfera do esporte para atingir a do caráter humano. Em vez de reclamar, o Danrlei deveria meditar mais sobre as lições dos erros.
Só um jogo de suspensão para ele, para o Dinho e para o Válber é muito pouco. É quase um prêmio para a violência.

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