São Paulo, quinta-feira, 3 de agosto de 1995 |
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Biografia mostra vida de excessos
DANIEL PIZA
O escritor Henri Troyat, na biografia que a Scritta lança no dia 15, conta essa vida tumultuada de maneira sintética e clara, mas não há grandes vôos de interpretação, ainda que o texto tenha aquele tom poético, ou poetizado, de que os franceses gostam. Troyat quer enfatizar a instabilidade da vida emocional de Baudelaire: ``O surpreendente é que esse poeta, tão sincero em seus escritos, possa tantas vezes ser pego, na vida, em flagrante delito de truques e simulações". Troyat fala dos escândalos que Baudelaire causava com suas provocações. Por exemplo, certa vez num círculo de amigos ele teria perguntado friamente ao anfitrião por que não servia no jantar o cérebro de seu filho -provavelmente um pirralho desses azucrinantes. Mas esse é o problema maior da biografia: Troyat não faz força nenhuma para separar a lenda de Baudelaire de sua vida real. Claro que isso é difícil, em termos práticos, porque não se dispõe de testemunhos frescos. Mas Troyat não precisava ter comprado a versão na íntegra. E poderia ter escapado à maneira de Richard Ellman, biógrafo de Oscar Wilde (1854-1900) -outro que não existiria sem Baudelaire ter existido-, fazendo uma biografia crítica, ou seja, mais voltada para a maneira como o fluxo da vida desembocou na obra. Mesmo porque a maioria das histórias -a sífilis, o ópio e o alcoolismo, que faziam o poeta vomitar e ter dores de cabeça constantemente- já são manjadas. Mas é um relato legibilíssimo e o Baudelaire que emerge parece bem real: um menino burguês, órfão de pai aos seis anos, que se torna um dândi, frequentador de bares e bordéis, vive um cotidiano de excessos e termina morrendo no colo da mãe. ``A essência de sua vida é a brusca passagem do desespero à ternura", diz Troyat, provando que os poetas são de fato as antenas da raça. (DP) Livro: Baudelaire Autor: Henri Troyat Preço: não definido Lançamento: dia 15 Texto Anterior: Volume reúne poesia e prosa de Baudelaire Próximo Texto: Vitoriosos não repetem erros Índice |
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