São Paulo, sábado, 5 de agosto de 1995
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"Bang Bang" é comédia para ver no picadeiro com olhos ingênuos

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

Encenada no teatro de uma paróquia, da Igreja São Judas Tadeu, ``Bang Bang" abre com uma cenografia muito pobre, de duas cordas estendidas ao fundo, com garrafas penduradas, mais uma porta de ``saloon", presa por cordas e que mal se sustenta em pé.
As cordas refletem o que é o coração da peça. ``Bang Bang" é um espetáculo de circo. Nada contra os clowns aprendidos em Londres ou as experiências mineiras de circo-teatro, mas ``Bang Bang" é o que há de mais sinceramente próximo do circo, em anos.
É uma peça para ver com olhos ingênuos, de público de circo. Seu humor é de picadeiro. É uma comédia que exige tal desprendimento, tal despreocupação com a forma, para não dizer com o profissionalismo, que talvez não seja viável fora do picadeiro.
Assim como a peça ``Os Brutos Também Amam" foi uma paródia do ``western" de prestígio, ``Bang Bang" gostaria de ser a paródia do ``western spaghetti", de pouco prestígio. As músicas reportam a filmes como ``Era uma Vez no Oeste" e os personagens evocam o jovem Clint Eastwood.
No entanto, assim como ``Brutos" não tinha como passar de um pastiche dos épicos de Hollywood, ``Bang Bang" não passa de um pastiche do pastiche que já era o ``western spaghetti". No fundo, a relação da peça com o ``western spaghetti" ou com o grande ``western" americano é mínima.
A comédia de Léo Lama se filia àquilo que a própria cultura brasileira já produziu em outros tempos, em relação ao tema, como ``Matar ou Correr", com Oscarito, para não falar em Mazzaroppi. ``Bang Bang" é uma chanchada.
O argumento não difere do comum de um ``western", mas muitos absurdos acontecem. Assim, um corajoso cowboy, Kid, que viu pai e mãe serem mortos por um assassino, descobre ao final que é, na realidade, o filho do xerife com a prostituta da cidade.
O que mais diferencia ``Bang Bang" é a paródia, o tratamento jocoso da ação. As atuações não levam a sério a trama. É como se houvesse um pacto de cumplicidade entre atores e público, para tripudiar sobre a história.
Neste caminho, ninguém é mais engraçado e tem maior domínio do que o autor, Léo Lama, que faz Kid. Em cada palavra ou gesto, em tudo o que ele expressa há uma ironia, um duplo sentido, uma exposição de ridículo.
A mãe de Léo, Walderez de Barros, faz a prostituta. Em contraposição ao filho, ela se esforça por interpretar o personagem. Mas tem os seus momentos, sobretudo de histeria, e, para além da estréia, vai tomar ritmo com a farsa.
O dramaturgo Plínio Marcos, pai de Léo Lama, começou como artista popular, como palhaço na tradição de Piolim e Chicharrão. Léo, no que se conhecia de seu trabalho, nada trazia de popular.
Era engraçado, mas com apelo juvenil, de teatro de colégio. Um primeiro passo em outra direção foi no papel de um mago que previa os piores sucessos para o Brasil, na peça curta de Plínio Marcos sobre a eleição do ano passado.
Pois é o que o ator e autor Léo Lama repete agora. Ele parece demonstrar, afinal, o aprendizado com o pai, na arte popular.

Título: Bang Bang
Direção: Oswaldo Mendes
Quando: Quinta a sábado, às 21h, e domingo, às 19h
Onde: Sala São Judas (av. Jabaquara, 2.682, tel. 276-3026)
Quanto: R$ 10,00 e R$ 20,00

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