São Paulo, segunda-feira, 7 de agosto de 1995
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Radialistas 'adivinham' na final paulista

XICO SÁ
ENVIADO ESPECIAL A RIBEIRÃO PRETO

``Sai do meio, tira a cabeça da frente, menina", gritava o locutor esportivo João Baptista, 45, 20 segundos de grito de gol, da Rádio Sociedade, de Uberaba (MG), ao tentar ver o campo para transmitir o jogo de ontem.
Assim como o narrador mineiro, pelo menos 50 outros locutores -entre os 113 que foram a Ribeirão- tiveram que ``adivinhar" muitas situações do clássico para transmitir da forma mais fiel possível aos seus ouvintes.
As cabines, camarotes e corredores do estádio Santa Cruz foram pequenos para a montanha de fios das emissoras, que vieram de todas as regiões do país e formavam uma ``torre de Babel" caipira.
O repórter da rádio de Uberaba Toni Carlos, por exemplo, não conseguiu entrar no campo e ficou de pé, sobre o braço da mesma cadeira do narrador João Baptista.
Tinha dificuldade para acompanhar o ritmo do narrador, o ``mais vibrante" do Triângulo Mineiro.
``Ele viu aquela montanha de negão (sic) na sua frente e aí disse: eu, hein?", gritava João Batista, relatando uma entrada do zagueiro Cléber no meia Souza.
Toni Carlos ilustrava a narração do colega, do alto da cadeira, emendando: ``Ele (Souza) ficou mais perdido do que gatão de fazenda".
Gatão, no glossário da rádio mineira, é o mesmo que ``peão", trabalhador rural.
A Rádio Dirceu, de Marília (SP), enfrentava o mesmo problema no estádio e tinha que apelar para a ``bola de cristal" em alguns lances do jogo.
Uma fileira de cabeças de torcedores atrapalhava a visão do narrador Vônei Alonso, 39, 16 segundos de grito de gol.
Com óculos escuros e lentes esverdeadas, Alonso estava preocupado com a fidelidade da transmissão. ``Em jogo transmitido pela TV, o cuidado da gente é redobrado", disse o locutor.
Além da dificuldade em ver o campo de jogo, outra paranóia que dominava boa parte dos narradores, ontem à tarde, era o medo de estar falando à toa, sem ouvido nas suas cidades.
Quanto mais distante a emissora, maior o temor.
Guilherme Guerreiro, 45, 15 segundos de grito de gol, da Rádio Marajoara, de Belém (PA), checava a todo instante: ``Você está me ouvindo, você está me ouvindo?".
Tudo para ter que os ouvintes paraense, a mais de 3.000 km de distância, escutassem seu prefixo de contagem dos minutos da partida: ``Olhe o tempo que o tempo tem", gritava ao longo da partida.

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