São Paulo, quarta-feira, 9 de agosto de 1995 |
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Canal construído por Ciro Gomes está desativado há mais de um ano
PAULO MOTA
Inaugurado em outubro de 1993, o canal teve 40% de seu custo financiado pelo governo federal e 60% pelo governo estadual. A obra só funcionou por sete meses. Ela foi desativada em junho do ano passado, depois que o abastecimento de água em Fortaleza retornou à normalidade. Nenhuma das obras de irrigação e aproveitamento das águas do canal, amplamente divulgadas na propaganda oficial do governo Ciro, foi construída até agora. Na semana passada, a reportagem da Agência Folha percorreu trechos do canal desde o seu início, em Itaiçaba, até o seu final, em Pacajus, e constatou que seu leito está ocupado apenas por uma lâmina de água e lodo. O diretor do Sindicato dos Trabalhadores da Companhia de Água e Esgotos do Ceará, vereador Sérgio Novaes (PSB), diz que, desde que foi desativado, ``o canal transformou-se num elefante branco, sem nenhuma utilidade". Novaes diz ainda que, em 1987, o Sindiágua apresentou ao então governador do Ceará, Tasso Jereissati (PSDB), um estudo no qual alertava sobre a possibilidade de um colapso no abastecimento de água em Fortaleza. ``Sugerimos que fosse construído o sistema Choró-Aracoiaba, com três barragens, ao custo de R$ 50 milhões, para resolver definitivamente o problema de água em Fortaleza", disse Novaes, mas isso não ocorreu, segundo ele. ``O resultado é que com as secas de 1991, 1992 e 1993, a situação estrangulou-se de tal forma que a construção do canal passou a ser a única solução para evitar o colapso no abastecimento de água em Fortaleza", disse Novaes. Canal Construído em tempo recorde -três meses-, o ``Canal do Ciro", como é conhecido popularmente, teve como objetivo imediato evitar um colapso no abastecimento de água de Fortaleza. No início de 1993, a seca fez com que os quatro reservatórios que abastecem a cidade ficassem totalmente exauridos. A construção de um canal levando a água do açude Orós (402 km ao sul de Fortaleza) foi apontada por Ciro como a solução para evitar que cerca de dois milhões de pessoas ficassem sem água. O caminho da águas do canal começa no açude Orós e percorre o leito do rio Jaguaribe até uma barragem artificial em Itaiçaba. De lá, são bombeadas pelo Canal do Trabalhador, num percurso de 115 km, até o açude Pacajus, que serve como fonte para abastecer os reservatórios de Fortaleza. Com as chuvas que atingiram o Ceará em 1994, os reservatórios de Fortaleza acumularam um grande volume de água, capazes de assegurar o abastecimento até 1997. Essa situação provocou a desativação do canal em junho de 1994. Durante a inauguração do canal, Ciro disse que a obra abriria uma nova fronteira agrícola no Ceará. Segundo ele, seria possível irrigar cerca de 250 mil quilômetros quadrados de terras localizadas às margens do canal. ``As promessas de irrigação não saíram do papel", disse Novaes. A Agência Folha procurou Ciro na quinta-feira, em Belmont (EUA), onde ele mora. Em Fortaleza, sua secretária, Luíza, disse que ele estava no Canadá. Acrescentou que tentaria passar os telefones da Agência Folha para Ciro. A mulher de Ciro, Patrícia, também disse que tentaria contatá-lo, mas até ontem ele não havia ligado para a Agência Folha. Texto Anterior: Ex-ministro nega responsabilidade Próximo Texto: Tasso aponta 'função reguladora' Índice |
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