São Paulo, quarta-feira, 9 de agosto de 1995
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Emprego e tecnologia

<UN->PAULO PEREIRA DA SILVA

Abertura indiscriminada leva seguramente a outro tipo de protecionismo, o do lado de lá
PAULO PEREIRA DA SILVA
Muito se tem feito de positivo nos últimos governos no rumo da internacionalização de nossa economia, tendência irreversível para todos os países e povos que queiram se libertar do atraso isolacionista e se integrar ao mundo que se avizinha uno, desenvolvido, e onde o centro das preocupações seja alcançarmos o bem-estar de todos e a plena cidadania.
Uma adequada política de abertura de nossa economia nos permitirá ingressar, com soberania e plenitude, no mundo competitivo (ou na mundialização da concorrência, como preferem outros) e isto, a meu ver, será o principal instrumento acelerador contra o tempo perdido e pela modernização intensiva de nossas empresas e sistemas de produção.
O futuro dos trabalhadores brasileiros disso depende e por aí passa. Pela formação de uma mão-de-obra superqualificada e bem paga, por um parque produtivo de escala, racional e tecnologicamente competitivo, e por um Estado nem máximo nem mínimo, mas simplesmente necessário. Que garanta estabilidade democrática e econômica, saúde, educação, segurança e desenvolvimento constante.
Em rápidas palavras, é esse o pensamento da Força Sindical e muito nos anima verificar, do ponto de vista global, grande sintonia entre o que formula e pratica a nossa central e o projeto de governo que vem sendo implementado pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, sua equipe de colaboradores e a maioria de seus aliados partidários.
Aqui neste artigo não tratamos das velhas corporações que em nada investem, a não ser na defesa da surrada reserva de mercado, nos vários tipos de protecionismos e em tantas formas de incentivos fiscais desse Estado atrasado.
Mas ao governo FHC cabe a preocupação permanente com medidas que, se por um lado estimulem essa abertura, por outro resguardem minimamente a produção nacional daqueles setores efetivamente empenhados na modernização e profissionalização de seus empreendimentos.
Política de abertura indiscriminada, como pregam alguns, leva seguramente a um outro tipo de protecionismo, o do lado de lá. E isso, é bom recordarmos, é o que aconteceu durante o governo Collor, por exemplo, com o setor têxtil, onde de um dia para outro indústrias foram dizimadas, provocando crise e desemprego em massa.
Agora corre-se o perigo de semelhante processo no caso -além de outros setores- da indústria nacional de autopeças, diante dos efeitos provocados pela MP 1.073/95 (que estabelece, entre outras medidas, uma alíquota de 2% para a importação de matérias-primas, equipamentos e peças para o setor automotivo).
Sei não se tratar exatamente do mesmo caso, pois ao contrário de obsoleto, esse setor da indústria brasileira vem absorvendo notáveis avanços tecnológicos e hoje é um dos mais competitivos internacionalmente.
São cerca de 520 empresas, muitas associadas a empresas congêneres estrangeiras e, o mais importante, geram, só no Estado de São Paulo, mais de 200 mil empregos diretos.
E é a saúde da economia e o emprego, nesse caso, a nossa principal preocupação. A citada medida provisória, permitindo a importação de similares com alíquotas reduzidas, objetivamente favorece as empresas montadoras de veículos em detrimento dos produtores de autopeças, e isso tende a gerar grave crise no setor e, por consequência, um radical desemprego.
O presidente FHC, ao nosso ver, deve modificar a medida e, como forma de compensar a defasagem cambial e o desequilíbrio entre os tributos internos e a alíquota de importação, encontrar mecanismos que, pelo menos por um período, aumentem o atual índice de nacionalização dos carros.
Finalmente, do ponto de vista estratégico, e olhando pela ótica dos trabalhadores e, portanto, dos nossos interesses globais, dou razão ao empresário José Mindlin quando diz:
``O importante é dar condições à indústria nacional de acompanhar o processo. E isso exige investimentos em tecnologia e em equipamentos com financiamentos de prazos compatíveis com os que as empresas dos países industrializados operam. Mas a consciência do problema existe e a gente vai ter de acompanhar essa mudança."
Ou seja, atentos e buscando soluções transitórias para os problemas presentes, mas operando com olhos e cabeça voltados para o futuro deste novo mundo em gestação, cabe aos setores lúcidos da nação, que representam a imensa maioria da sociedade, apoio decidido a políticas governamentais que têm impulsionado as indispensáveis reformas modernizadoras do Estado brasileiro.

PAULO PEREIRA DA SILVA, 38, é presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo e diretor nacional da Força Sindical.

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