São Paulo, quinta-feira, 10 de agosto de 1995
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Governo mantém Dallari, mas promete investigação

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ministro da Fazenda, Pedro Malan, decidiu ontem manter no cargo o secretário de Acompanhamento Econômico do ministério, José Milton Dallari.
Ao mesmo tempo, determinou que a Receita Federal conclua as investigações para apurar supostas irregularidades nas empresas em que Dallari é acionista.
O secretário é acusado de tráfico de influência por ser acionista de uma empresa de consultoria para associações de supermercados, indústrias alimentícias e de remédios ao mesmo tempo em que define política de preços no país.
A decisão foi comunicada por meio de nota oficial no início da noite de ontem, após um dia no qual se esperava a saída de Dallari do governo.
Malan determinou ao secretário da Receita Federal, Everardo Maciel, a ``elucidação dos fatos" com a maior brevidade possível. A nota não diz qual o prazo para a conclusão das investigações.
Dallari, segundo a nota, vem ``prestando inestimáveis serviços ao governo e ao Programa de Estabilização Econômica".
Afastá-lo do governo seria negar-lhe o direito de se defender, diz a nota. A justificativa é de que, por isso, Malan decidiu mantê-lo no cargo.
A permanência de Dallari no governo estava sendo decidida desde segunda-feira, depois que "vazaram informações de que o secretário presta assessoria a diversas empresas.
Um relatório elaborado pela Receita Federal aponta Dallari como único sócio da empresa de consultoria econômica Decisão.
O deputado federal Arlindo Chinaglia (PT-SP) divulgou contratos da empresa Decisão com a assinatura de Dallari.
Entre os clientes estão a Abras (Associação Brasileira de Supermercados), a Sandoz, e a Abiec (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes Industrializadas).
O secretário negou, na terça-feira, que as assinaturas nos recibos apresentados por Chinaglia fossem suas.
A nota divulgada no final do dia de ontem veio colocar fim ao suspense sob a situação de Dallari no governo.
O Ministério da Fazenda explica na nota que as investigações sobre "eventuais irregularidades fiscais em empresas das quais o secretário é acionista iniciaram em 1994 e "prosseguem seu curso normal.
Malan solicitou esclarecimentos a Dallari, diz nota, e este informou que está afastado da gestão da empresa desde janeiro de 1994, quando assumiu o cargo.
O ministro considerou satisfatórios os esclarecimentos prestados, informa a nota, e decidiu aguardar a conclusão do trabalho da Receita Federal.
Dallari declarou-se habilitado a responder a cada uma das alegações, afirma a nota, e negou que tenha assinado documento ou colocado rubrica em empresa da qual é acionista, depois de ter assumido o cargo no governo.
O governo também vai apurar, segundo a nota, a responsabilidade administrativa e penal "pela indevida divulgação de documentos da investigação que está sendo feita pela Receita Federal.
Depois da divulgação da nota, Dallari reapareceu em São Paulo. As secretárias de Dallari informavam pela manhã que ele estava em São Paulo reunido "com a família e seus advogados.
Ele só falou à imprensa no começo da noite. A Folha havia apurado que a saída de Dallari era dada como certa.

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