São Paulo, sexta-feira, 11 de agosto de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Erro médico pode ter matado sociólogo

DA REPORTAGEM LOCAL

A morte de Florestan Fernandes pode ter ocorrido por erro médico. A suspeita partiu da própria equipe que responsável pelo transplante de fígado ao qual o sociólgo foi submetido na semana passada.
A causa da morte pode ter sido uma embolia gasosa -bolha de ar provocada pela máquina que fazia hemodiálise (processo de depuração do sangue) em Florestan.
A família só ficou sabendo da possibilidade de erro médico às 14h30 de ontem, exatamente 12 horas após a morte. Mas o maior constrangimento ocorreu às 17h20, quando o corpo chegou ao crematório da Vila Alpina (zona leste de São Paulo).
Ordem assinada pelo delegado Eduardo Hallage, da Delegacia Seccional de Pinheiros, determinava que o corpo fosse levado ao IML (Instituto Médico Legal) para ser submetido a necropsia.
O primeiro a saber da informação foi o filho do sociólogo Florestan Fernandes Júnior. Dez minutos depois, quando as pessoas aguardavam a cerimônia de cremação, ele convocou sua mãe e as irmãs para uma conversa reservada.
Abraçado aos familiares, Florestan Júnior comunicou a eles a decisão da polícia. Em seguida, se dirigiu aos demais presentes.
Disse que a família considerava aquele ato como a ``cerimônia de despedida" do pai, mas que o corpo teria de ser levado ao IML porque haviam surgido suspeitas sobre a causa da morte.
O anúncio causou perplexidade. Mesmo assim, a cerimônia teve início. Foram executadas músicas que o sociólogo gostava, entre elas a ``Internacional" -hino oficial do movimento comunista.
Presente à cerimônia, o presidente do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, lamentou: ``No Brasil, já aconteceram falhas médicas com um presidente da República, como Tancredo Neves, e agora com o Florestan. Tirem agora as conclusões do que acontece nesses hospitais por este país afora".
Após a cerimônia, Florestan Júnior informou que às 14h30 recebera um telefonema do médico Silvano Raia, responsável pelo transplante em seu pai, admitindo a possibilidade de falha na máquina de hemodiálise.
Ainda no crematório, Florestan Júnior falou por telefone com Raia. O médico levantou duas hipóteses para o erro fatal. Uma seria na manipulação do equipamento; a outra seria defeito mecânico na própria máquina.
O atestado de óbito foi assinado pelos médicos Pedro Caruso e William Abrãao Saad Júnior. O próprio Raia comunicou a suspeita da falha médica à direção do Hospital das Clínicas.
A pedido da direção do hospital, o delegado Eduardo Hallage abriu boletim de ocorrência e determinou a necropsia.
Florestan Júnior questionou o comportamento dos médicos: ``É estranho que só 12 horas depois da morte os médicos começassem a levantar dúvidas sobre falhas".
``O dr. Silvano Raia vai ter que explicar isso direitinho", disse.
O corpo do sociólogo chegou ao IML às 20h55 de ontem. Segundo Roberto Falzoni, médico do HC que iria participar da necropsia, os resultados dos exames deverão ficar prontos em cerca de 15 dias.
Falzoni afirmou que vai ser muito difícil comprovar a morte por razão de uma embolia gasosa.
``Existe possibilidade de não se conseguir resultado algum com os exames. É complicado provar embolia gasosa. O ar não deixa resíduos. Como diagnosticar o ar e ter certeza que foi esse o problema?", perguntou Falzoni. A cremação estava prevista para as 6h30 de hoje.

Texto Anterior: Florestan Fernandes morre aos 75 em SP
Próximo Texto: Hospital fará investigação
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.