São Paulo, sexta-feira, 11 de agosto de 1995
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"Puerto Escondido" perde-se no labirinto

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DE CINEMA

Filme: Puerto Escondido
Produção: Itália, 1994, 106 min.
Direção: Gabriele Salvatores
Elenco: Diego Abatantuono, Valeria Golino, Claudio Bisio
Onde: a partir de hoje no cine Belas Artes/sala Oscar Niemeyer

Mario é um vice-presidente de banco em Milão. É, sobretudo, um arrivista perfeito. Mas sobre este homem exemplar -para efeito de honrarias sociais- uma catástrofe se abate: é baleado sem nenhum motivo aparente.
Ou antes, logo se saberá o motivo: ele testemunhou um assassinato praticado por outro policial, que agora quer eliminá-lo. Não consegue. Mas Mario se vê, a partir daí, numa engrenagem que o força a fugir, pouco depois, para o México (sob pena de ser, ele, preso por assassinato).
O início de "Puerto Escondido" -novo filme de Gabriele Salvatores, que fez sucesso internacional com "Mediterrâneo" (Oscar de melhor filme estrangeiro em 1992)- é promissor. Parece que vai nos jogar naquelas intrigas estranhas dos antigos filmes policiais italianos.
Quando Mario chega a Puerto Escondido, parece até que Salvatores vai enveredar por uma espécie de variante italiana do filme "noir" (esta vertente cheia de mistérios e detetives que os americanos criaram nos anos 40/50).
Mas aí o homem começa a descobrir os infortúnios da virtude. Termina sem dinheiro, perdido com uns hippies italianos que vivem de pequenos golpes.
Há tudo para se chegar em um filme interessante. A verdade, porém, é que Salvatores se perde. Para começar, há mais mexicano cantando do que em um velho filme americano. Estamos no coração do folclore. É um incômodo que daria para esquecer caso o filme se decidisse por alguma linha.
Espera-se até o final, mas tudo que aparece são erranças à moda de Wim Wenders, conversas à moda de Eric Rohmer, comédia à italiana, policial à mexicana, filme social à latino-americana.
Se em "Mediterrâneo" Salvatore resgatou alguns valores do cinema italiano -não, talvez, o espírito de inovação-, desta vez borboleteia por gêneros e elementos sem chegar a nenhum porto. "Puerto Escondido" vale, na melhor das hipóteses, para demonstrar que há pouca chance de sobrevivência para um cinema sem criatividade fora dos EUA.

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