São Paulo, sexta-feira, 11 de agosto de 1995
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Christophe Besse mostra talento no Vivaldi

JOSIMAR MELO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Restaurantes de hotel causam calafrios. No Brasil, com raras exceções, eles mantêm o costume de não ter graça -nem no ambiente, muito menos na comida.
O Vivaldi, do Sheraton-Mofarrej, reaberto há dois meses, honra apenas em parte a tradição. Felizmente, é na parte que toca à comida que ele é mais bem-sucedido: sua cozinha mostra talento e inquietação em doses que valem a pena verificar.
Não que o ambiente tenha sido negligenciado. Pelo contrário: o hotel diz ter gasto US$ 500 mil para reformar o último andar do prédio, ocupado pelo restaurante e pela pista de dança.
O resultado, porém, foi uma decoração carregada, artificial, inspirada num estilo art decó soterrado por tapetes e mármores importados.
Mesmo a vista, que poderia mostrar, do alto de seus 36 andares, marcos da cidade, como o vizinho parque Trianon ou o perfil da avenida Paulista, é prejudicada. O parapeito das janelas é alto o bastante para impedir que quem está sentado enxergue algo além do céu.
Mas o dinheiro foi também empregado em benefícios, como a louça de boa qualidade, a lista extensa de vinhos com boas ofertas e os ingredientes que vêm à mesa, sempre de primeira. Tudo isso ajuda a realçar as qualidades que a cozinha do chef Christophe Besse já revela.
Suíço, Besse volta ao Brasil para o mesmo posto que já ocupou no passado. De formação hoteleira, ele tem o mérito de, mesmo num curto cardápio, fugir ao império da cozinha "internacional de hotel". Sua culinária é francesa, moderna, com capricho de execução e preocupada em aproveitar ingredientes brasileiros.
O resultado são algumas interessantes combinações de sabores, presentes em pratos, como as vieiras glaceadas servidas com chicória e um delicado creme de mandioquinha ou os camarões grelhados com manteiga branca de pastis, acompanhados de risoto ao vinho tinto e suco de laranja (cuidado, o cardápio leva a crer que o prato seja um risoto de camarões).
O resultado final é positivo, mesmo se há pratos que podem ser mais vistosos que gostosos ou tentativas vãs, como servir um peito de pato defumado no próprio hotel -que resulta muito seco e sem sabor-, quando há produtos importados de excelente qualidade.
Positivo até em um terreno normalmente banalizado, como o das sobremesas, que traz sugestões como o parfait de gengibre e mel com compota de pêra.

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