São Paulo, domingo, 13 de agosto de 1995 |
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Objetivo é ação emergencial
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA A secretária-executiva do Programa da Comunidade Solidária, Anna Maria Peliano, diz que o programa não esgota a atividade social do governo.Segundo ela, há atividades em áreas como saúde e educação desenvolvidas por outros órgãos do governo. Peliano não nega a face assistencialista do programa e diz que o principal objetivo é o combate emergencial à fome e à pobreza. A seguir, os principais trechos da entrevista de Peliano à Folha: Folha - O Comunidade Solidária foi elaborado contando com a honestidade de políticos do interior. Não é ingenuidade? Peliano - Não. O que esses programas de alimentação tradicionalmente têm sofrido são críticas de uso clientelista. Por isso que está sendo exigida a implantação dessas comissões que mobilizam o poder municipal e a sociedade. A idéia de ter essas comissões inclusive protege o próprio programa de críticas dessa natureza. Folha - Mas continuam existindo pessoas desonestas... Peliano - O que a gente tem observado é que são casos isolados. Só que geralmente são os casos que aparecem, né? Folha - Quando um prefeito como o de Itapeva (SP) diz que incluiu servidores municipais no programa de cestas porque eles precisam, a senhora acha que ele está falando a verdade? Peliano - Preferia não julgar sem ter ido lá, sem ter visto as condições. Estou apostando nessas comissões locais em pessoas que conhecem a realidade. É muito difícil dizer daqui quais são as condições das pessoas atendidas. Folha - Como a senhora vê as críticas de que o programa faz o assistencialismo de sempre, apenas com técnicos competentes? Peliano - Eu até entendo, porque o que está chegando nos municípios nesse primeiro momento, a cesta de alimentos, é o lado assistencial do programa. Como os outros programas estão descentralizados, não têm essa visibilidade. O Comunidade não nega que tem duas vertentes: o da assistência, do imediato, da emergência, e o lado de mudanças mais estruturais, que leva mais tempo. Folha - Quanto tempo? Peliano - Isso vai variar caso a caso, de Estado a Estado. Há recursos no Banco do Brasil e no Banco do Nordeste que não estão sendo utilizados, até pela dificuldade de Estados e municípios em se articular com os bancos para implementar estes programas de geração de emprego e renda. Folha - A senhora acha que é cedo para criticar o programa? Peliano - Sem dúvida. É diferente você fazer o projeto de uma ponte, que você vai lá, faz o projeto e constrói. A área social é um processo, e essa sistemática de parceria entre o governo estadual e municipal é nova. Mas é preciso ter claro que o programa não esgota a política social do governo. Folha - O que há mais? Peliano - Há a política de saúde, de educação, da previdência. Há ações sendo feitas em diversos ministérios que extrapolam a área do Comunidade Solidária. Folha - Então o programa se restringe aos miseráveis? Peliano - Sim, àqueles programas dentro de cada ministério voltados emergencialmente para o combate à fome e à pobreza. Folha - O senador Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA) andou criticando o Comunidade, dizendo que não será com ele que se vai acabar com o problema da fome. É verdade? Peliano - Sem dúvida, a solução do problema da fome passa pela melhoria do poder aquisitivo da população, pela estabilização, pela queda dos preços dos alimentos. Acho que o Plano Real vai dar muito mais conta de resolver o problema da fome do que programas emergenciais e de assistência. Texto Anterior: Em Macabu, não há projeto para empregos Próximo Texto: Falta cesta para a 'campeã' de indigência Índice |
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