São Paulo, domingo, 13 de agosto de 1995
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"O governo nos deu o purgatório"

LUIZ MALAVOLTA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM RONDÔNIA

Mineiro de Aimorés, Sebastião Belmiro dos Santos, 39, está em Rondônia há 19 anos. Veio com a mulher Maria, com quem teve sete filhos.
Nos 42 hectares que recebeu há duas décadas do Incra, continua plantando. ``Sou um dos poucos. Se fosse mais inteligente e tivesse algum dinheiro, só criava gado."
Santos diz que se sentiu um verdadeiro desbravador quando chegou a Rondônia com 19 anos. ``Isso aqui era uma floresta só, com muito bicho e malária."
Ele afirma que se tornou ``homem de verdade" nos projetos de colonização. ``Minha vida mudou completamente. Saí de uma casa boa, em Minas, onde morava com os pais, para um lugar de muita lama na época de chuva e muita poeira na seca", declarou.
Ele reclama da falta de apoio oficial. ``O governo prometeu o paraíso, mas nos entregou o purgatório", declarou.
Hoje, os sete filhos o ajudam na lavoura, mas ele espera que eles consigam o que ele sonhou ter.
Acha que se tivesse ficado em Minas Gerais talvez estivesse melhor. ``Pelo menos teria um emprego e um salário no final do mês. Aqui, só com muito trabalho consigo algum dinheiro com as lavouras."
Santos disse que raramente vai à cidade. A estrada é de terra, e ele só tem uma velha carroça como meio de transporte.
Sua terra está produzindo cada vez menos. ``Procurei um técnico do governo, e ele me disse que a terra está cansada. Algumas áreas já estão erodindo. Isso é o fim."
Mesmo sem ajuda do Incra, ele diz que nunca pensou em desistir do assentamento. ``Na minha idade, o que eu espero conseguir na vida?"
(LM)

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