São Paulo, domingo, 13 de agosto de 1995
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Mulheres preferem trabalhar com homens

DA REPORTAGEM LOCAL

Inveja, deslealdade, competição, fofoca, falta de objetividade: sempre que uma mulher vai falar mal de outra (dentro ou fora do ambiente de trabalho) surgem as mesmas acusações.
Ao defender a companhia do homem, algumas delas garantem que com eles a conversa é mais direta, não há problemas pessoais misturados aos profissionais, boicotes a reuniões importantes ou ciúme da melhor amiga.
``Os homens são mais claros e diretos", diz Cristina Moreno, 39, secretária do advogado Manuel Alceu Affonso Ferreira há sete anos. Ela diz que trabalhou duas vezes com mulheres, no início da carreira, mas não sente a menor saudade (leia texto ao lado).
A história mais longa de Cristina com chefe mulher durou um ano, mas não teve o mesmo final feliz que a de Melanie Griffith no filme ``Uma Secretária de Futuro". Antes de desmascarar sua ``chefe-ladra-de-idéias-brilhantes"', como Melanie no filme, Cristina foi dispensada. ``Minha chefe me colocou à disposição assim que percebeu que eu era uma pessoa de garra", lembra.
Não é só competência, nesses casos, que dá justa causa -beleza e juventude também. Quando tinha 17 anos, a publicitária Cristina Carvalho Pinto, hoje com 41, sofreu nas mãos de uma colega um pouco mais velha (hoje ``muito bem colocada no mercado"). Cristina lembra que a colega não comunicava reuniões importantes e a deixava sem defesa quando o diretor vinha cobrar sua presença.
``Aquela moça tinha problemas comigo porque eu era boa no trabalho e me dava muito bem com os homens."
O relacionamento de Cristina com a ala masculina continua ótimo. Boa parte do primeiro e segundo escalões de sua agência, a Young & Rubican, é formada por homens, mas ela nega que tenha ficado traumatizada com as mulheres. ``Se eu percebesse algum tipo de ressentimento em uma companheira de trabalho, hoje, sentaria para conversar numa boa."
Cristina e a atriz Tuna Duek, 37, são duas mulheres que certamente não se dariam bem no trabalho. Tuna desconfia de conversas ``numa boa" e não acredita em mulheres bem-intencionadas. ``Elas estão sempre querendo puxar o tapete".
Sua preferência pela companhia masculina é tão descarada que ela não consegue se lembrar de amigas mulheres.
Seu ginecologista é homem, o dentista, o melhor amigo, o analista. ``Tentei fazer análise com uma mulher, mas não durou um mês", lembra. ``As interpretações dela eram longas como samambaias."
O ``machismo feminino" nas relações de trabalho apresenta números interessantes. Segundo uma pesquisa do Datafolha, 36% das mulheres preferem trabalhar com homens.
``Eles fecham negócios muito mais rapidamente", afirma a gerente de pessoa física do banco Credit Commercial de France, Shirley Cadavid, 33. Ela calcula que 80% de seus clientes são homens e contrapõe a objetividade deles à falta de firmeza das mulheres. ``Se elas assumem os negócios do marido, a insegurança dobra. Na maior parte das vezes, a mulher coloca o pessoal no meio."
As mulheres que se cercam de homens defendem ainda a tese de que eles são mais leves, bem humorados e pouco dados a fofocas. ``Com eles não tem disse-me-disse", acredita a apresentadora do programa Note e Anote, da TV Record, Ana Maria Braga, 40. Ela trabalha no estúdio cercada por nove homens -entre técnicos e câmeras- e se sente muito à vontade. ``Eles não se ofendem com tanta facilidade."
Antes de trabalhar em TV, Ana Maria foi diretora de publicidade de oito publicações na Editora Abril e comandava 40 homens. Apesar de dizer que era tudo circunstancial, ela solta uma gargalhada quando perguntam se fossem 40 mulheres. ``Eu enlouquecia."

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